A vacina
No dia do arranque da inédita "final 8" da Champions, no Estádio da Luz, em Lisboa, num sempre apetecível "David" (o estreante Atalanta, de Bérgamo) contra "Golias" (PSG, onde só o salário de Neymar sobra para pagar todos os vencimentos da equipa italiana), e no dia em que finalmente se ficou a saber quem acompanha Byden na corrida presidencial (Kamala Harris, a senadora californiana, poderá vir a ser a primeira vice-presidente mulher afro-descendente) - enquanto Trump mergulhava de cabeça em mais uma das suas alarvidades (desta vez foi a gripe espanhola, em 1917, que acabou com a segunda guerra mundial, em 1945) - a notícia é outra.
A notícia é a vacina russa para a covid, que Putin anunciou ao mundo com o nome de Sputnik V.
Talvez comece aqui, justamente no nome, a onda de desconfiança do mundo na vacina russa. Na verdade há três boas razões para desconfiar. A primeira é que não constava entre as seis que a Organização Mundial de Saúde (OMS) disse na semana passada estarem mais avançadas. A segunda é a falta de acompanhamento de pares estrangeiros em relação à metodologia científica utilizada. E a terceira é o registo da vacina sem estar concluída a fase de testes. Putin anunciou que foi testada na filha, e que tudo está a correr bem. Não é bem a mesma coisa...
Mas basta o Sputnik para desconfiar. Sputnik não é apenas a marca do programa espacial dos gloriosos anos do início da segunda metade do século passado, quando os soviéticos, ao chegaram primeiro ao espaço, ganharam essa batalha aos americanos. É a declaração do poderio científico russo face ao ocidente, e todos sabemos o que isso vale para Putin.
Por isso, Putin é capaz de tudo. E por isso, em vez de aplaudir a vacina por que anseia, o mundo desconfia.