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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

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Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

A voz que vale a pena ouvir

Estado de emergência. A entrevista na íntegra a Ramalho Eanes

 

António Ramalho Eanes deixou-nos ontem à noite, numa entrevista à RTP 1 - mesmo reconhecendo-lhe alguns méritos profissionais, não gosto do tom (do tom, do registo, dos apartes...) da entrevistadora, confesso -  mais um exemplo do que é uma voz autorizada e respeitada. Ou do que é a reserva moral de uma nação.

Eanes tornou-se acidentalmente, pode dizer-se, Presidente da República. Ainda jovem, e em condições históricas muito particulares, como se sabe. Na altura, e nessas condições históricas, foi eleito pela direita, em 1976,  e reeleito pela esquerda, em 1980. Criou o "eanismo" e deixou Belém em 1986, no meio de alguma turbulência com a criação do PRD, onde andou entre um pé fora e outro dentro, a que deu e tirou gás, deixando sempre uma sensação de não saber muito bem o que fazer com o seu próprio espaço político, que desapareceria com os finados do partido às mãos do cavaquismo. 

 Recordo-me de uma entrevista à mesma RTP, então ainda televisão única, na véspera da despedida de Belém, onde chegaria no dia seguinte Mário Soares, um "velho" inimigo político. Eanes concluía 10 anos no mais alto cargo da Nação sem nunca ter revelado o seu lado mais humano e pessoal. As suas manifestações públicas esgotavam-se nos actos oficiais, e na verdade era uma pessoa desconhecida,  sempre escudada naquela esfinge imperturbável e austera.  A minha expectativa era grande. Livre das amarras da função, e com ambições políticas,  soltar-se-ia finalmente da esfinge - admitia eu - e daria finalmente a conhecer-se. O seu mundo, o seu pensamento, a sua verdadeira dimensão política.

Recordo-me como fiquei decepcionado com a entrevista. E com o vazio político de um homem que tinha sido Presidente da República e que, aparentemente, mantinha aspirações políticas para continuar a influenciar o país.

Por tudo isto, no meu ponto de vista, a história deste homem na História do país estava feita. Já teria pouco a acrescentar.  

Mas é aqui que tudo muda. Eanes abdica dessas aspirações, deixa cair o PRD e, caso único em Portugal e não sei se no mundo, dedica-se ao estudo e à investigação científica, culminando no doutoramento pela Universidade de Navarra, em 2006, com a tese "Sociedade civil e poder político em Portugal". E inverte completamente o destino que o meu ponto de vista lhe traçara no fim daquela entrevista há 34 anos.

À honradez e a dignidade, que sempre estiveram na esfinge austera da sua imagem de marca, Eanes acrescentou vida, exemplo, conhecimento, experiência e prestígio. E por isso é, aos 85 anos, a voz que os portugueses escutam com respeito e atenção. E que vale a pena sempre ouvir!

 

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