Aberração política
Pode até parecer que é perseguição. Ou falta de assunto. Não é. Apenas as circunstâncias da eleição de Bolsonaro revelam cada vez mais sintomas de aberração política.
Ontem, numa participação de culto evangélico da igreja a que pertence (Assembleia de Deus Vitória em Cristo), na zona norte do Rio de Janeiro, seguida por todos os jornais brasileiros, entre outras frases de circunstância Bolsonaro disse: “Não sou o mais capacitado, mas Deus capacita os escolhidos”.
Em circunstâncias que daríamos por normais, em muitos outros países, esta seria uma frase politicamente mortal. Até porque a falta de qualificação para o cargo, agravada pela falta de um programa político e pela recusa na participação em debates é, pelo menos, tão relevante quanto o enquadramento político-ideológico daquilo que fez e disse em campanha.
No Brasil, neste contexto, não é. É simplesmente mais uma frase pensada, e dirigida aos que o elegeram, em que Bolsonaro se coloca como um deles. Não serei o mais qualificado, mas Deus protege-me e não me vai faltar com ajuda. E isto é mortal, mas, por aberração, justamente o antónimo do mortal do parágrafo anterior.
O anúncio público - ontem, também - do convite ao juiz Moro para integrar o governo, à luz das mesmas circunstâncias que daríamos por normais em países de maturidade democrática, é um óbvio e evidente atentado aos valores democráticos, em especial do Estado de Direito, e ao princípio da separação de poderes. Nas circunstâncias da eleição de Bolsonaro, é trazer para o governo gente séria, com provas dadas na perseguição à corrupção.
E não é menos mortal. Nem menor aberração!