Adeus capitão. Adeus fantasma!
O Benfica não está a jogar o triplo, está a jogar bem mais. Se a base for o que jogou na segunda metade da época anterior o multiplicador não é três, é capaz de ser o infinito - está a jogar infinitamente mais!
Tivesse concretizado metade, ou até um terço, das oportunidades de golo criadas hoje, no jogo com uma das bestas negras da Luz das últimas temporadas, e estaríamos a falar de uma exibição esplendorosa.
Este jogo com o Moreirense seria sempre especial. Porque era o primeiro jogo oficial da época na Luz, e o último de Rúben Dias. E porque era um jogo cheio de fantasmas: há duas épocas que o Moreirense alimenta um fantasma na Catedral.
Percebeu-se logo a confirmação não confirmada da notícia do dia, que apontava a saída de Rúben Dias para o Manchester City. Mesmo que a transmissão da Benfica TV a tivesse querido ignorar olimpicamente, acabando mal na fotografia com as declarações do próprio Rúben na flash-interview no final do jogo. Era evidente que o último dos titulares da equipa proveniente do Seixal, e o único titular da selecção nacional que representava o Benfica, era o preço a pagar pela eliminação da Champions. A braçadeira de capitão, quando na equipa estavam André Almeida e Pizzi, os dois a quem sucedia nessa hierarquia, dizia-nos isso mesmo.
E pronto, de praticamente meia equipa com origem na formação, num ápice o Benfica passa a uma equipa sem jogadores da casa. Morto e enterrado o famoso projecto do Seixal, seja porque o treinador, como há muito se sabe, não está para aí virado; seja porque, na hora de fazer dinheiro, Luís Filipe Vieira e Jorge Mendes não conheçam outra fórmula. Agora acabou!
Mas...voltando ao jogo de hoje. Foi uma exibição a que faltou meia dúzia de golos. No jogo anterior, em Famalicão, a equipa jogou muito bem e fez cinco golos. Em 14 remates. Hoje a equipa jogou muito melhor, mas em mais do dobro dos remates fez apenas dois golos. Dos 29 remates, 10 foram enquadrados com a baliza, sete dos quais salvos por seis grandes defesas do Pasinato, guarda-redes do Moreirense, a maioria delas sem que ainda saiba como, e um por um defesa que não se sabe donde apareceu para em, cima da linha de golo evitar o golo gritado de Waldschmidt que, servido de bandeja por Darwin (grande exibição!), depois de passar pelo guarda-redes, rematou para a baliza deserta. Um, de André Almeida, foi ao poste. E na maioria dos restantes 18 Pasinato estava batido mas a bola acabou ligeiramente por cima ou ao lado.
O primeiro golo chegou bem atrasado, pela forma como o Benfica entrou no jogo, sem deixar o adversário respirar, e retirando-lhe completamente a bola. Tinha de ser assim, porque no pouco tempo em que o Moreirense então a teve percebeu-se que sabia bem o que fazer com ela. Chegou aos vinte minutos, e pensou-se que, pela avalanche atacante do Benfica, outros se seguiriam. Não foi assim. Chegou apenas mesmo no final da primeira parte, em mais uma bonita jogada de futebol e numa finalização perfeita de Darwin (e como merecia o golo!). Mas acabaria anulado, por fora de jogo do uruguaio.
E com o segundo, que não foi, terminou a primeira parte, cheia de grande futebol. Na qual o Moreirense ainda ensaiou com propósito duas ou três saídas para o contra-ataque, concluindo uma única, com um remate que bateu em Grimaldo e obrigou Vlachodimos à sua única defesa em todo o jogo. E que defesa!
O resultado magro ao intervalo, mas principalmente a inusitada quantidade de oportunidades não concretizadas, começava a engordar o fantasma que as bancadas despidas escondiam.
À medida que o relógio ia avançando pela segunda parte fora, e os remates continuavam a sair ao lado, ou por cima, a bater no ferro, ou a ser defendidos, o fantasma engordava ainda mais, e parecia já passear no campo. O Moreirense não fazia nada que assustasse, e não assustava mesmo. Mas os fantasmas assustam. Sempre.
E na realidade só desapareceu aos 80 minutos, quando Seferovic - que havia entrado a substituir o Waldschmidt sem que se percebesse muito bem por quê -, com mais um serviço de bandeja do Darwin, chutou para o segundo golo. Finalmente!
Curioso é que, num jogo em que a única complicação foi mesmo marcar golos, tenham sido dois jogadores que estão de saída a fazê-lo. Um no último jogo pelo Benfica, e outro ... se calhar também.
Foi um jogo de adeus. Até de adeus ao fantasma. Mas também de uma grande exibição colectiva, com nota alta para todos os jogadores, mas altíssima para Darwin, Rafa, Everton, Rúben Dias (claro) e Gabriel, para já muito bem na sua nova posição.