Aldrabices de valor acrescentado - finalmente!
Por Eduardo Louro
Há já quatro anos que trouxe aqui a minha indignação com as chamadas de valor acrescentado, de que as televisões usavam e abusavam. Dizia na altura que não tinha nenhuma dúvida sobre a sua ilegitimidade, e chamei-lhes "aldrabices de valor acrescentado".
Uma aldrabice que, autêntico maná para os oligopólios da televisão e das comunicações, ninguém ousou enfrentar. Por isso cresceu e multiplicou-se, até ultrapassar todos os limites da decência, quando passou a ser objecto da mais abjecta e agressiva forma de promoção. Formas de promoção que não eram apenas ilegítimas pela pressão que exerciam no telespectador, pressão exercida exactamente pelos seus ídolos, pelas vedetas do pequeno ecrã que o público quase venera. Eram ainda ilegítimas pela deslealdade competitiva e concorrencial, e pelo abuso de posição dominante. As estações de televisão usam, na promoção dessa aldrabice, recursos ilimitados, a que mais ninguém alguma vez conseguiria aceder: tempo ilimitado e caras inesgotáveis. Tudo de borla, tudo sem qualquer restrição, totalmente desregulado!
Há quatro meses voltei ao tema - e ao título - dando justamente conta da pouca vergonha que estava instalada. A verdade é que isso não preocupava mais ninguém. Os poderes públicos, tão rápidos e eficazes a perseguir o cidadão nas mais pequenas coisas, ou não viam ou não queriam ver!
Finalmente, mas apenas, ao que conta o Diário de Notícias, depois de ter recebido duas queixas, a Entidade Reguladora da Comunicação (ERC) anuncia que vai investigar. Não sei se mais vale tarde do que nunca. Sei que é este o Estado de Direito em que vivemos!