Banha da cobra
Ficamos hoje a saber que nos Estado Unidos, e nos restantes países mais desenvolvidos, esta crise epidemiológica deverá chegar ao fim no terceiro ou no quarto trimestre do próximo ano, mas que é possível que regressemos à normalidade já no primeiro ou no segundo trimestre.
E quem é que nos vem dizer estas coisas, a apontar para a luz no fim do túnel?
Um grupo de cientistas de um conglomerado de universidades mundiais? A OMS? Um departamento especializado de uma estrutura europeia ou americana de que nunca tínhamos ouvido falar?
Não. Nada disso. Quem nos diz isto é uma consultora americana de negócios: a McKinsey!
Que explica - não fossemos nós duvidar - que, depois de desenvolvida a vacina, e da sua aplicação a parte suficiente da população, bastam seis meses para ser criada a imunidade de grupo. E que todos estes passos cabem no seu calendário se a produção da vacina permitir rapidamente a disponibilidade de milhões de doses, se as cadeias de distribuição forem eficazes e se milhões de pessoas se disponibilizarem para ser vacinadas logo na primeira metade de 2021.
Uma empresa de consultoria empresarial poderá intervir na capacidade de produção e na gestão da eficácia da distribuição. É aí que está o seu negócio. Já a descoberta e os testes da vacina, e o processo de vacinação, que é só o que verdadeiramente está em causa, são tudo coisas que não lhe dizem respeito, e que extravasam completamente o seu campo de intervenção.
Mas isso não interessa nada, como diria a outra. O que interessa é que a mensagem passe e chegue onde terá de chegar. Nem que para isso se tenha de descer ao nível da banha da cobra.
E depois não querem que os consultores tenham má fama...