Benfica 1 - Rio Ave 1
Os benfiquistas, esquecidos do que tem acontecido na Luz, tudo perdoado à equipa, Lage - qual cordeiro emulado - por longe, e cheios de fé na estreia de Mourinho, voltaram em massa à Luz. Mais de 57 mil, numa noite de terça-feira, para assistir à degola do inocente Rio Ave - há quatro dias depenado pelo Porto, em Vila do Conde - adversário da primeira jornada, adiada até hoje por força dos jogos da terceira pré-eliminatória de acesso à Champions, com o Nice, de boa memória.
Festa, muita festa à chegada. Tanta quanto a desilusão, à saída. Porque houve muito, se não tudo, de mais do mesmo.
Mais do mesmo na primeira parte. Mais do mesmo jogar para trás e para o lado, numa falsa ilusão de domínio pela posse de bola, que não servia para nada. Mais da mesma passividade, da mesma falta de agressividade. Mais do mesmo conformismo, com o tempo a passar sem que nada de futebol se passasse.
Se a primeira parte na Vila das Aves tinha parecido um jogo de solteiros e casados, esta, esta noite na Luz, parecia um jogo de infantis. Os do Rio Ave não saíam lá de trás, queimavam tempo desde o pontapé de saída, defendiam com tudo e com todos, chegavam sempre primeiro às bolas divididas, e ganhavam todos os ressaltos. Os do Benfica regalavam-se com a bola, a circulá-la para trás e para o lado, e que deixava os oponentes regalados. Sempre que fosse para dar à bola outro destino, os do Benfica perdiam-na. Ou porque falhavam passes, dos mais ousados aos mais simples, de um ou dois metros, ou porque se deixavam antecipar, ou porque eram passarinhos.
Ao intervalo o resultado não podia ser outro que o 0-0, com o desespero a instalar-se nas bancadas, que descarregavam a ansiedade nos assobios ao anti-jogo do Rio Ave, em particular nas reposições de bola do guarda-redes.
Mais do mesmo, ainda no primeiro quarto de hora da segunda parte. Até porque do balneário veio tudo na mesma.
Foi então tempo da primeira defesa do guarda-redes Miszta, aos 55 minutos, a um cabeceamento de Pavlidis. Mas também da ovação a Dedic, por evitar uma transição perigosa do Rio Ave com um sprint e uma recuperação notáveis.
À entrada do segundo quarto de hora, o golo do Benfica marcava o fim do mais do mesmo. Como no primeiro golo das Aves, resultou da presença na área adversária, e acabou no golo de António Silva, à primeira, depois de a bola ter sido tirada de dentro da baliza, confirmado por Pavlidis. Só que o VAR viu qualquer coisa. Ainda não vi mas, chamado de Oeiras, o árbitro Sérgio Guelho - porque ligo pouco a árbitros, um nome que nem conhecia, mas que é, também, mais do mesmo (foi conivente com 90 minutos de anti-jogo, mostrou um amarelo logo no início do jogo a Ivanovic, por pretensa simulação fora da área, mas nunca penalizou qualquer jogador do Rio Ave, quando todos abusaram de conduta anti- desportiva, e com isso incendiou as bancadas, e desestabilizou os desestabilizados jogadores do Benfica) - disse que "o jogador número trinta pisou o adversário".
Logo a seguir, portanto já em pleno segundo quarto de hora, José Mourinho, que tinha repetido o 11 inicial da Vila das Aves, com Ivanovic, na esquerda, a não ser carne (ponta de lança) nem peixe (ala, ou extremo) resolveu mexer na equipa, corrigindo precisamente por aí, pelos alas que faltavam à equipa. Entraram Schjelderup, para a esquerda, e o estreante Dodi Lukebakio, para a direita, para a lógica saída de Ivanovic, e de Dahl, com Aursenes, o pau (para toda a obra) que começa a quebrar, a passar para lateral esquerdo.
Lukebakio agitou o jogo, e o Benfica passou então a deixar a ideia que o golo seria mesmo uma questão de tempo. As oportunidades sucediam-se, umas atrás das outras. Foi o chapéu do próprio Lukebakio. Foi a oferta de bandeja, que Rios falou em cima da linha de golo.
Até que o tempo chegou, na fórmula clássica do golo, tão simples e tão velha, que não se percebe porque não faz parte do cardápio do futebol da equipa: Lukebakio - quem mais? - foi à linha de fundo e cruzou para rasteiro para a zona de penálti. Lá estava Sudakov, no sítio certo, para o segundo golo em dois jogos.
O relógio marcava 86 minutos, e a Luz, em festa, respirava de alívio. Mas foi tempo de regressar ao mais do mesmo. A mais um golo sofrido nos descontos, no único remate à baliza. Com mais dois pontos ingloriamente perdidos, que colocam desde já, ainda em Setembro, a fasquia do título muito lá em cima.