Benfica de oito
O mote para o jogo desta noite na Luz - cheia, mas não como um ovo, com algumas clareiras - tinha sido dado ontem, com o empate no clássico do Dragão. Onde as coisas até correram bem, com as habituais broncas de fim do jogo a fazerem de cereja no topo do bolo, que era o resultado.
Este jogo com o Moreirense, que até tem pregado umas partidas na Luz, era para ganhar. Não era para mais nada, mas sabe-se que jogar bem é sempre o caminho mais perto, e seguro, para ganhar.
Ainda antes de conseguir dar a perceber se vinha para jogar bem, já o Benfica estava a ganhar. O relógio marcava 6 minutos quando Pavlidis converteu em golo o penálti que aconteceu à passagem do primeiro minuto, praticamente na sequência de um primeiro lance em que Aursenes, depois de perfeitamente enquadrado, e com espaço para um remate de golo, acabou por decidir atravessar com a bola toda a frente da área adversária, até a perder. Dificilmente a entrada no jogo poderia correr melhor. Ou, se calhar, pior ...
Porque, se um golo logo a abrir era tudo o que melhor se podia esperar do jogo, a (in)decisão do Aursenes dava também o mote para o que seriam praticamente 90 minutos de más decisões.
Entrando a perder, o Moreirense não foi de experimentalismos, e pegou no jogo. Pressão alta sobre a defesa do Benfica, muita posse, e boa troca de bola. Se logo no pontapé inicial fora Aursenes a pronunciar más decisões, na resposta do Moreirense foi Bah, aos 11 minutos. Quando a equipa não se conseguia libertar da pressão alta do adversário, numa bola vinda de um ressalto no lado esquerda da defesa benfiquista, Bah, à vontade, e com o corredor aberto, em vez de correr para a bola para arrancar em posse, decidiu que era melhor deixá-la sair pela lateral, e usufruir do lançamento.
Bah não conseguiu perceber aquele momento do jogo. Não percebeu que um ressalto tinha resolvido (mudança súbita de flanco, é assim que se responde à pressão alta!) o que a equipa não conseguia resolver. E, depois, não percebeu que, com aquela pressão, na reposição entregaria - como entregou, não havia alternativa - rapidamente e de novo a bola ao adversário.
Estava o Moreirense entretido a jogar à bola quando o Benfica engata a única transição rápida em todo o jogo: Kökçü tentou lançar Schjelderup no ataque, Dinis Pinto conseguiu a intercepção, mas a bola sobrou para Pavlidis. Que abriu em Aktürkoğlu, que rematou para grande defesa de Kewin para canto. Cobrado pelo turco para o bis de Pavlidis, no sítio certo a aproveitar um ressalto.
Em quinze minutos, e três remates, o Benfica marcava dois golos. Melhor só o Moreirense, que marcava ao primeiro remate. Apenas 4 minutos depois de sofrer o segundo golo, e depois de mais uma trapalhada de Carreras, a perder a bola quando queria entrar com ela por onde não cabia uma agulha.
No clássico "não é preciso muito para o Benfica sofrer golos" - bastou um lançamento lateral -, o clássico desvio de Otamendi, a enganar Trubin!
Em 20 minutos, três golos. Em quatro remates. E o Moreirense, que nunca saíra do jogo, antes pelo contrário, regressava à discussão do resultado.
O jogo só dava Moreirense quando Bah se lesionou. Gravemente, pareceu. Logo a seguir foi Manu. Lesão grave, pareceu também. Entraram António Silva (para Tomás Araújo passar para a lateral direita) e Florentino. As lesões fazem mal à equipa, mas as substituições fizeram-lhe bem. Não muito, mas Tomás Araújo e Florentino passaram a estar melhor no jogo que os infortunados Bah e Manu.
Menos de um quarto de hora depois de ter sofrido o golo o jogo voltou a sorrir ao Benfica. Mais um canto, agora na esquerda, cobrado por Kokçu, para Otamendi marcar o terceiro. E repor a tranquilidade de dois golos de vantagem, antes do intervalo que, por força dos 7 minutos de compensação, chegaria 10 minutos depois.
A segunda parte foi mais do mesmo, entre a chatice e o suplício. Aos 85 minutos o Moreirense marcou, ainda a tempo de acentuar ansiedade nas bancadas da Luz. Mais um clássico do "não é preciso muito para o Benfica sofrer golos": Carreras foge para o meio e arrisca um passe em profundidade, permitindo a intercepção da bola e o golo de Ivo Rodrigues, a finalizar com competência. A competência que Aursenes - mais uma vez -, à passagem do primeiro quarto de hora, não teve quando desfrutou de idêntica oferta do guarda-redes Kevin.
Mas mais frustrante, ainda, que a primeira parte. Foi um acumular de decisões erradas por parte de jogadores e treinador, e a gritante exposição da falta de rotinas. Os jogadores não sabem o que hão-de fazer e por isso tomam sucessivamente más decisões. O treinador ... idem, idem ... aspas, aspas!
Bruno Lage está perdido. Perdido no seu discurso labiríntico, nos seus equívocos e, receio, que na sua incompetência. E a encaminhar-se em passo acelerado para um beco sem saída.
Bruno Lage quer esconder este Benfica de oito, incapaz de transportar para os adeptos as sensações que vêm da classificação. Para que os benfiquistas acreditem que é possível recuperar os quatro pontos de desvantagem para o Sporting, poderá não ser preciso um Benfica de oitenta. Mas é preciso um Benfica constante, pelo menos de setenta.
Uma última nota para as substituições, onde Bruno Lage ficou logo condicionado pelas duas a que foi obrigado pelas lesões. Não tendo optado por utilizar o intervalo, o treinador ficou com três substituições para um único momento: a 25 minutos do fim, tirando os três da linha avançada - Aktürkoğlu, Pavlidis e Schjelderup. Entraram Leandro Barreiro, que desperdiçou a segunda maior oportunidade da segunda parte, e Belotti e Bruma, que só perderam a oportunidade para uma boa primeira impressão. Jogadores, e treinador, não conseguiram mostrar nada que abonasse a sua contratação.