Bluff, predador e caça
Por Eduardo Louro
Ninguém terá grandes dúvidas que estamos a atravessar uma das mais fervilhantes fases do jogo político. Estamos perante uma certa pokerização da política, onde o bluff é rei. Imagine-se a excitação de Marcelo, se fosse já o Presidente da República...
Ninguém sabe, mas toda a gente admite, que o PS apenas está a manifestar toda a abertura à esquerda para que a coligação de direita suba a parada. Ninguém sabe, mas muita gente admite, que o PCP apenas demonstrou toda a abertura ao PS, roçando a própria emulação, para o encostar ainda mais á parede. E para dar o golpe de mesericórdia em Cavaco. Ninguém sabe, mas já se admite, que o Bloco adiou o seu encontro com o PS apenas para primeiro saber como tinham corrido as coisas com a coligação.
Provavelmente, nem o PCP está tão disposto a entregar um cheque em branco a António Costa, nem este está assim tão interessado nele. E muito provavelmente o Bloco está a perceber que tem pela frente a sua grande oportunidade histórica, e que para não a desperdiçar só tem agora que fazer bluff. Só tem que se mostrar completamente empenhado numa solução de governo com o PS, mesmo que não esteja nada interessado nisso.
Provavelmente é tudo isso. Mas, se o PS não agarrar esta oportunidade que a História lhe depositou nas mãos de formar governo com a esquerda - que não se esgota na obrigação de o formar, mas que não lhe permite quaisquer ambiguidades - mais provável que tudo isso, é a sua pasokização. No jogo político actual, com tudo o que está em cima da mesa, não há lugar para meias tintas: o PS ou é predador ou é caça. E sendo caça, depois, nem os ossos se lhe aproveitam!