Bons sinais e boas sensações
Com o país deprimido e derretido pelos incêndios e pela incúria generalizada, valha-nos o futebol - quer dizer, o Benfica. Que, ao terceiro jogo desta pré-temporada, começa a empolgar-nos e alimentar a esperança benfiquista que, como se sabe pelos últimos anos, não é a última a morrer.
Roger Schemidt está a cumprir. Não tanto o que prometeu - não é o bazófias - mas o que se prometia: um futebol virado para a frente, dominador e atraente. Bonito de se ver.
O jogo de ontem, com o Fulham (5-1), de Marco Silva, deu sequência mais prolongada à excelente primeira meia hora do jogo de sexta-feira, com o Nice (3-0). E já começam a não ficar dúvidas que o futebol deste Benfica é feito de muita pressão sobre o adversário, sempre bem alta, de agressividade competitiva, de muita circulação a um a dois toques, e de movimentos tácticos muito interessantes. Incluindo as bolas paradas.
Em ambos os jogos Roger Schemidt apresentou duas equipas diferentes em cada parte, apenas os guarda-redes cumpriram o jogo completo - Helton Leite, no primeiro, e Odysseas, no de ontem. O onze das primeiras partes será o que mais perto está da equipa base, e foi sempre o de maior rendimento e qualidade. Flagrantemente no jogo com o NIce, com menor distância no de ontem, com o Fulham, onde aquele onze "secundário" conseguiu atingir momentos de muito boa qualidade.
A opção por duas equipas distintas é claramente justificável em contexto de pré-época. Seja pela necessidade de observar os jogadores em contexto competitivo, seja pela própria exigência física do modelo de jogo. Não é possível que, neste momento, os jogadores tenham condição física para 90 minutos daquele futebol. E provavelmente alguns dificilmente chegarão a ter, tal é a exigência.
Com muito por definir no plantel, especialmente nas saídas, há indicações que não escapam às primeiras impressões. À parte os muitos que nem sequer tiveram oportunidade para deixar impressão - uns porque estão evidentemente à espera de solução para o seu caso, como especialmente Seferovic, André Almeida, Meité, Taarabt, Diogo Gonçalves, Gabriel e Rodrigo Pinho, outros por se encontrarem lesionados, Veríssimo, João Victor e Ristic, e ainda Musa, não sei bem por quê, parece claro que Pizzi não encaixa de todo no sistema do treinador alemão. Que Weigl e Paulo Bernardo dificilmente encaixarão. E que Gil Dias e Chiquinho estão aquém da qualidade exigida para permanecer no plantel. Do outro lado, do das boas sensações, há muitos a destacar.
Começando pelas novas contratações, Neres não engana e é muito mais jogador que o Cebolinha. Bah não é certo que ganhe o lugar a Gilberto, mas não desilude. E Enzo Ferandez pega de estaca naquele futebol. O regressado Florentino ... parece que desta é que é.
Dos jovens da formação, António Silva é a maior revelação. Que central! A concorrência é grande, mas tem tudo para ser o que de melhor de espera de um defesa central. Como Henrique Araújo , embora deste já soubéssemos muito, tem tudo para ser um grande avançado. Completo. Diogo Moreira tem muita qualidade, mas também ainda muito para aprender a melhorar.
Gonçalo Ramos, eleito o MVP do jogo de ontem, com dois golos, dentro do que se lhe conhece, é um jogador que conta. Se não vier a sair, evidentemente. E faz a ponte para os que transitam da equipa anterior. Onde João Mário, que tem estado bem, será o que mais dificuldades terá em integrar-se neste sistema de jogo. Tem actuado sobre a esquerda, e dado boa conta do recado, mas...
Rafa é o caso sério desta equipa. Desequilibra, como sempre, e marca golos. É fundamental, e só precisa de ser acarinhado, e eventualmente de algum trabalho psicológico para manter a alegria e ser um jogador feliz. Porque, jogar à bola, faz ele como poucos. Parece-me que também Yaremchuk precisa de trabalho e apoio para explodir esta época, já mais ambientado. Também ele precisa de recuperar a alegria do jogo, e de ser feliz a jogar à bola, para poder lembrar (ou fazer esquecer) Darwin. No jogo de ontem já fez isso, e em alguns momentos fez esquecer a tristeza da última época, e lembrar a profundidade e até a capacidade de assistência do jogador que partiu para o Liverpool.
E por último, Grimaldo. Não há ninguém no plantel como ele. Impõe-se que Rui Costa tudo faça para, dentro de critérios razoáveis, assegurar a renovação do seu contrato, agora que terá a cabeça limpa de Barcelonas e afins.
Os sinais são bons, os melhores das últimas pré-épocas.