Brexit - o axioma!
Diz-se que, afinal, o Parlamento atrapalhou as contas de Boris Johnson. Não sei se atrapalhou. Impediu-o de avançar com a saída sem acordo e, acima de tudo, impediu-o até de a utilizar como arma negocial com a União Europeia.
Como não creio que se possa acusar os deputados britânicos de impor limites à defesa dos interesses do país, tenho de concluir que entendem que seria uma arma muito perigosa nas mãos daquele primeiro-ministro. Acho que os deputados fizeram bem, o que não quer dizer que Boris Johnson tenha saído definitivamente derrotado.
Da mesma forma que nada do seu plano poder ficou ganho quando avançou para a suspensão do Parlamento, também agora nada ficou decididamente perdido. Pelo contrário, foi até um passo importante para chegar às eleições antecipadas, afinal o grande objectivo do projecto de poder do exuberante primeiro-ministro inglês. Mesmo que, ao anunciar a sua necessidade, tenha dito que era contra a sua vontade, que não as queria.
Acontece que convocar eleições não é prerrogativa incondicional do primeiro-ministro. Terão que ser convocadas por dois terços dos deputados (434 dos 650) ou, em alternativa, na sequência de uma moção de censura. E nenhuma destas condições estão já aqui ao virar da esquina.
No meio disto tudo, a maior vitória de Boris Johnson é, por mais paradoxal que possa parecer, a consolidação do brexit. Quando continua em causa na sociedade britânica, deixou de estar em dúvida na agenda política, e passou a axiomático. Apenas se discute se com, ou sem acordo!