Campeãs - mas mais apetecia dizer "campeonas"!
A equipa feminina de futebol do Benfica sagrou-se ontem campeã nacional, ao vencer categoricamente em Alvalade a do Sporting, por 3-0, na última jornada do campeonato, no terceiro ano da sua existência. No primeiro passeara pela segunda divisão, e conquistara a Taça de Portugal, no segundo liderava a competição com a do Sporting quando foi interrompida por razões da pandemia e, no terceiro, para já, ganhou a Taça da Liga e o campeonato.
Foi um bom espectáculo de futebol, bem disputado e, boa parte dele, bem jogado. Com algumas curiosidades, em especial quando - inevitavelmente - comparado com o futebol masculino. A pedra angular do futebol é o passe e a recepção. O resto é a criatividade individual e a intensidade. E na realidade apenas no capítulo da recepção, pelo que se viu neste jogo, o futebol apresentado pelas meninas ficou alguma coisa a dever ao masculino.
O primeiro golo surgiu bem cedo, aos 5 ou 6 minutos, numa grande jogada da Cloé Lacasse (a melhor em campo) concluída exemplarmente pela Nycole. E foi determinante, já que, com mais dois pontos, e em vantagem num jogo em que o empate lhe servia, ao Benfica passou a bastar controlar o jogo. Ao invés, obrigou o Sporting a desgastar-se na procura dos golos a que nunca chegaria. Nem a grandes oportunidades para isso.
As melhores oportunidades acabaram por pertencer ao Benfica, em especial nos últimos vinte minutos do jogo. O segundo golo surgiu aos 83 minutos, pela fantástica Cloé Lacasse. E o terceiro 4 minutos depois, num penalti convertido com classe pela miúda prodígio Kika Nazareth, de 18 anos.
No que toca a futebol jogado as curiosidades têm a ver com a posição adiantada das guarda-redes, em especial Letícia, a do Benfica, que chega a jogar bem próxima da linha do meio campo, sendo parte decisiva da construção do futebol ofensivo da equipa. E com as raríssimas situações de fora de jogo. No resto, uma arbitragem sem controvérsias, e … sem VAR. O que nos dias de hoje dá saudades.
Claro que também lá estiveram coisas de homens. Mau perder e gesto feios, que julgávamos ser exclusivo masculino. Mas perder é perder, no masculino ou no feminino. E custa sempre a quem anda lá dentro. Como foi o caso da Ana Capeta, a jogadora do Sporting que foi expulsa nos últimos minutos, quando perdia por 2-0, e saiu de pirete em riste para o banco do Benfica, acto de imediato reprovado pela sua treinadora. Mas já não foi o de Frederico Varandas que, ainda por cima em ano de tantas vitórias, não deveria ter mandado o fair-play às ortigas.
Podia aproveitar esta conjuntura vitoriosa para ser grande na derrota? Poder, podia, mas não era a mesma coisa… E Varandas tem dificuldade em ser outra coisa. O que é pena, porque nunca foi tão fácil fazer a diferença no quadro do dirigismo dos clubes portugueses.