CAMPEÕES
65 mil na Luz, para comemorar "in loco" a conquista do 38. Milhões por todo o mundo!
Antes, havia um jogo para ganhar. Não para jogar, apenas para disputar e ganhar. Tinha ontem dito algures que se amanhã o Benfica não desatasse a marcar golos cedo, o país corria o risco de um forte abalo sísmico, com um movimento tectónico capaz de deslocar a pacata cidade do Entroncamento 230 quilómetros para noroeste.
O Benfica marcou cedo, logo aos 7 minutos. Mas nem isso evitou que, no Dragão, o Porto começasse a jogar contra 10. Não sei - não vi, nem fui ainda procurara saber - se a expulsão do jogador do Guimarães, aos 2 minutos, foi justificada pela aplicação das leis do jogo. Sei é que uma expulsão aos 2 minutos é coisa estranha. Mas também sei que é mais frequente acontecerem coisas estranhas no Dragão que no Entroncamento. E tenho a certeza que nunca aconteceria com um jogador do Porto.
Se esta coisa estranha aconteceu logo no arranque do jogo, imagine-se o que não teria acontecido se o Benfica não tivesse marcado logo no início do seu jogo.
Na Luz sabia-se disso, e os jogadores entraram em campo para rapidamente marcar, e arrumar com os fenómenos. Do Entroncamento, ou do Dragão. Era um jogo para ganhar, e mais nada.
Teria de assim ser, e foi assim. Na primeira parte o Benfica ganhou o jogo. Na segunda, esperou pela festa. O Santa Clara era, irreversivelmente, o último classificado do campeonato, com a descida de divisão confirmada. Há muitos fenómenos estranhos no futebol em Portugal, não ainda não há milagres.
O Benfica entrou em campo com quatro alterações em relação ao último jogo, em Alvalade. Três pela entrada no onze de Morato, no lugar do castigado António Silva, Bah e Florentino. A quarta pelo regresso de Aursenes à sua posição natural. Que não se sabe bem qual é - porque ele é médio centro, é ala em qualquer dos lados, é segundo avançado, é tudo... - sabe-se é que não é defesa direito. Chiquinho ficou de fora. Dir-se-ia que naturalmente. Neres, também. Mas ao contrário do que seria natural. Talvez se justificasse mais que fosse João Mário a sair do onze, mas isso agora não interessa nada.
O que interessa é que o Benfica entrou em campo para resolver o que havia para resolver - o campeonato. O 38. E não deixou hipóteses a fenómenos e a fantasmas. Gonçalo Ramos marcou logo aos 7 minutos, logo no primeiro remate à baliza, de cabeça, a corresponder ao excelente cruzamento de Bah, depois de mais uma jogada bem desenhada. Até aí tinha havido futebol envolvente, pressão alta e domínio absoluto do jogo. Remates, é que não, como até foi sendo habitual.
Depois do golo o Benfica abrandou o ritmo, e parecia até ter deixado adormecer o jogo quando, 20 minutos depois, João Mário e Rafa conduziram uma jogada de contra-ataque de compêndio - até pareceu que fora para isso que se deixara adormecer, para os jogadores do Santa Clara se aventurarem lá à frente - que o último concluiu no segundo, deixando praticamente feito o que havia para fazer.
Depois foi dominar e controlar o jogo e, na segunda parte, esperar pela festa. Sem obsessões pelo golo. Nem que fosse para Gonçalo Ramos regressar ao primeiro lugar da lista de marcadores, donde saíra na última jornada por força dos penáltis de Taremi. De mais aqueles três de Famalicão.
Foi de tal forma evidente que Roger Schemidt não queria que essa obsessão perturbasse a equipa que até encarregou Grimaldo da marcação do penálti que fechou o resultado, quando havia ainda mais de meia hora para jogar. E como foi bonita a forma como o lateral esquerdo espanhol o usou para se despedir dos adeptos!
Começou aí a festa. Que ainda dura, bonita, na Catedral. Antes de seguir para o Marquês, para durar pela noite fora.
O 38 tardou, mas chegou. Com todo o merecimento. Com o mérito de uma liderança desde a primeira jornada, e isolada desde a quarta. Com o melhor ataque (82 golos) e a melhor defesa (20)!