"Chico Esperto"
As campanhas eleitorais tendem a aprofundar o que de mais deprimente existe naquilo a que alguns chamam política.
Ontem, no seu "Isto é gozar com quem trabalha", Ricardo Araújo Pereira caricaturou-nos um primeiro-ministro, na qualidade de líder do seu partido, ao nível do mais rasca vendedor da banha da cobra. Nada a que não estejamos habituados, nele e noutros.
Não é bonito, nem é digno. Mas de alguma forma já incorporamos estes estereótipos eleitorais. Pode estranhar-se que se transformem campanhas eleitorais em feiras onde aos berros se vende tudo, mas a verdade é que as coisas funcionam assim. Entre umas promessas que nunca são para cumprir, umas aldrabices mais ou menos intencionais, umas sandes de porco assado, umas minis e o barulho de música mal amanhada lá se vão conquistando uns votos.
Não é assim que se faz política. Nem deveria ser assim que se fizessem campanhas eleitorais. Mas quando vimos os candidatos do Chega às Câmaras da Covilhã e de S. Braz de Alportel que o "Isto é gozar com quem trabalha" nos mostrou, perdoamos tudo.
Tínhamos percebido que o André Ventura apostara nestas autárquicas para cobrir todo o território nacional, com vista a somar totais nacionais que lhe sirvam o objectivo primeiro de se encostar o PSD à parede. Tudo o que era preciso era distribuir candidatos pelo país, não importava como nem quem, porque o resto era resolvido com a cara de Ventura em todos os cartazes. Todos serviam - alucinados, idiotas, chalupas, indigentes. Tudo servia como, apesar de tudo o que têm procurado esconder, se tem visto.
O Chega é isto, não é outra coisa. É um "chico-esperto" que aproveita todas as oportunidades do jogo democrático para acabar com a democracia. Mas nem nisso inova. Todos no passado fizeram assim!