Chinesices
As teorias conspirativas sobre a origem da pandemia que virou o mundo do avesso, insinuadas por Trump e logo agarradas pelos Camilos Lourenços desta vida, parecem-me uma patetice. Não tanto pela impossibilidade de demonstração, com a discussão sempre capturada pela especulação, isso seria o menos. Mas porque desvia o foco daquilo que importaria discutir.
Se a China criou ou não o vírus, em primeira análise, e se a sua disseminação foi acidental ou propositada, é um enredo que só interessa à China, e aos interesses chineses, que nunca são apenas chineses. Ao mundo democrático e civilizado basta a inegável ocultação, durante semanas, do que estava a acontecer em Whan. Basta considerá-la acto hostil e exigir da China a sua reparação, que é como quem diz o financiamento de um programa de recuperação das economias dos outros cantos do mundo afectadas pela pandemia. Não aceitar outra coisa que não exactamente isso, e recolher a mão que tem tido estendida para receber as migalhas da campanha que a diplomacia expansionista chinesa pôs em marcha.
Tão simples quanto isto.
Abrir-se-iam então duas vias: ou a China assumiria essa obrigação, e era definitivamente colocada perante as suas responsabilidades no mundo, acabando com as ambiguidades dos seus compromissos internacionais; ou, o que seria mais provável, rejeitaria essa responsabilidade, e o mundo votá-la-ia ao isolamento com que agora nos vimos confrontados, com um total embargo comercial e político.
Só que isso acabaria com os baixos custos de produção das grandes multinacionais lá instaladas, e com a maior fatia do mercado das suas marcas de luxo. E, claro, é de custos e vendas que se fazem os lucros.
É por isso muito mais interessante alimentar teorias da conspiração. Que não passem de chinesices para que tudo fique na mesma. Ou o mais próximo possível!