Coisas extraordinárias
Um caça soviético MiG-29 interceptou, e forçou a aterrar em Minsk, um avião da Ryanair que, num voo de Atenas para Vilinius, atravessava espaço aéreo bielorrusso.
O pretexto anunciado foi a existência de uma bomba a bordo; o real foi o de deter um jovem bielorrusso, de 26 anos, conhecido opositor ao regime de Lukashenko desde a adolescência.
Aconteceu no domingo. Ontem, o jovem Roman Protasevich, jornalista e blogger, surgiu nas televisões a confessar os crimes de que o regime de Lukashenko o acusa, e declarar-se muito bem tratado pelas autoridades bielorrussas.
Um acto de pirataria aérea, uma detenção/rapto, e a exibição do prisioneiro a confessar aquilo de que é acusado e estar a ser muito bem tratado. Vemos isto em filmes e, aqui e ali, nos múltiplos cenários do terrorismo internacional. Praticado por um Estado é outra coisa.
Sabemos que Lukashenko é capaz disto e de muito mais. E que hoje a Bielorrússia não passa de um Estado pária. Que o PCP - sabemos também, embora sem o conseguirmos perceber - defende. Como defende o regime de Putin, que o sustenta. De tal forma que ontem, ao comentar o tema no canal de notícias da RTP, uma certamente ilustre representante do partido, não podendo fugir a um esboço de condenação do acto, encontrou um "mas". É sempre nos "mas" que está o busílis da questão.
O "mas" é que o jovem bielorrusso capturado é um agitador da extrema-direita nazi. E, aí está, isso legitima tudo. Até que isso, no mínimo isso, não seja exactamente Lukashenko. E Putin, evidentemente.
Não vale mesmo a pena tentar perceber esta coisa extraordinária do alinhamento internacional do PCP. É tempo perdido, e nunca encontraremos neurónios suficientes para tão gigantesca tarefa.