Compatibilidades
A selecção nacional de futebol iniciou hoje a participação na Liga das Nações, no Dragão, precisamente onde, há pouco mais de um ano conquistou o troféu da última edição da competição. Que até foi a primeira.
Num grupo que junta só o campeão e o vice-campeão do mundo, e o campeão da Europa e da própria Liga das Nações - justamente Portugal -, e ainda a Suécia, o apuramento para a fase final será bem discutido, e o cartaz de jogos rico e apetecível.
Começou a Croácia, a vice-campeã do mundo, e senhora de um futebol atractivo de bom nível técnico. Desfalcada de três dos seus nomes mais sonantes - Modric e Rakitic fora da convocatória, e Perisic no banco - a selecção das Balcãs entrou bem no jogo, e pertenceu-lhe até o primeiro remate do jogo. E logo um remate a sério.
Depois a selecção nacional, sem Cristiano Ronaldo, começou por equilibrar o jogo - não durou mais que um quarto de hora essa sensação de equilíbrio - e passou depois a dominá-lo por completo. E até ao fim!
Quando João Cancelo marcou o primeiro golo, aos 41 minutos -e que golo! - já a bola tinha ido por três vezes aos ferros da baliza croata, e para trás já estavam cinco ou seis oportunidades de golo. O jogo correu sempre a um ritmo relativamente baixo, e com baixos níveis de agressividade - na primeira parte as duas equipas não cometeram mais que cinco ou seis faltas - o que favoreceu claramente o jogo da equipa nacional, com os jogadores portugueses a terem tempo e espaço para exibir o talento que reconhecidamente lhes não falta.
Foi por isso um jogo agradável de ver, com jogadas de bom recorte técnico, e com a equipa das quinas - a estrear o novo equipamento alternativo que, de gosto discutível, mas não feio de todo - a praticar um futebol compatível com a qualidade dos jogadores. O que, com Fernando Santos, como se sabe, nem sempre acontece. Diria mesmo que raramente acontece.
O jogo acabou para dar para tudo. E até para matar saudades do futebol de João Félix. E para João Félix matar saudades de si próprio, finalmente numa equipa que lhe permite expressar o seu futebol.
O resultado poderia ter atingido números vexatórios, e a expressão da goleada (4-1, com estreias a marcar de João Félix e Diogo J, e com o golo de André Silva no último lance do jogo a atenuar o golo sofrido, na única oportunidade dos croatas) acaba por ser lisonjeira para o vice-campeão do mundo.
Não é politicamente correcto mas, mais uma vez, fica a ideia que a selecção joga muito melhor futebol sem Cristiano Ronaldo. Não retira nada a Cristiano Ronaldo, nem apaga nada do muito que ele fez pela selecção, mas acontece demasiadas vezes para ser apenas coincidência.
Mas sabe-se que é pecado questionar se nesta altura Cristiano Ronaldo tira mais à selecção do que lhe dá. E ninguém está para pecar. Muito menos Fernando Santos, como se sabe!