Conformismo em vez de ambição
Mantém-se a sina - o Benfica não consegue ganhar três jogos consecutivos nesta Liga. Tem agora os últimos três jogos para conseguir esse registo, um indicador da indispensável regularidade numa competição destas. As dúvidas que seja desta são mais que muitas. O Benfica já perdeu 15 pontos em casa, e não há objectivos que resistam a uma realidade destas.
Há pouco tempo dizia-se que o Benfica era forte com os fracos e fraco com os fortes. Agora, de há largos meses a esta parte, o Benfica é fraco com os fortes e com os fracos. Mais recentemente é ainda mais fraco com os fracos. Na realidade só não foi fraco com o Liverpool; em Alvalade o Sporting não foi sequer forte.
A irregularidade desta equipa não é apenas culpa dos jogadores. É de todos, adeptos incluídos. Basta olhar para o que vimos ao longo da semana, com o movimento que se viu à volta de Nelson Veríssimo. Bastou empatar em Liverpool e ganhar em Alvalade para que os adeptos achassem que o futuro teria que passar pelo actual treinador. Que era errado, e injusto, se assim não fosse.
A irregularidade do Benfica, e este empate de hoje com o Famalicão, na Luz, têm em comum, acima de tudo, uma mesma causa: falta de ambição. À equipa basta um um dois resultados positivos para achar que já cumpriu os objectivos. Não tem ambição para mais. E isso, mais que responsabilidade dos jogadores, é responsabilidade de quem está acima. De todos, a começar no treinador, o rosto mais visível dessa falta de ambição.
Os exemplos são muitos. O mais flagrante é o discurso de Nelson Veríssimo: "toda a gente dizia que iríamos ser amassados pelo Ajax e a equipa deu a resposta". Foi sucessivamente repetindo a expressão, acrescentando-lhe Liverpool. E depois até o Sporting. Ouvimos isto vezes sem fim, e voltamos a ouvi-lo depois de mais este desaire.
Esta falta de ambição notou-se logo na constituição do onze inicial, e confirmou-se na acomodação da equipa ao jogo. Sem Everton, a cumprir suspensão pelo amarelo de Alvalade, Nelson Verísismo apostou em Gil Dias. Percebeu-se que o treinador quis premiá-lo pelo golo em Alvalade. Não jogou nada ao longo da época, nunca justificou a contratação, que ninguém percebeu mas, porque nos 5 minutos que jogou em Alvalade marcou o golo que o Darwin fabricou, justificou a titularidade. É preciso pouco para ser titular numa equipa de alta competição. O Rúben Amorim é que não percebe nada disto.
O que se tem visto quando a equipa precisa de resolver os jogos, é Nelson Veríssimo tirar o Everton e fazer entrar o Yaremchuk, passando o Darwin para a posição do brasileiro. O natural seria que, sem o Everton à partida, e com o jogo para resolver, e face ao histórico deste jogos na luz quanto mais cedo melhor, tivesse feito isso no onze inicial. Falta de ambição do treinador, e ideia de que o jogo haveria de se resolver por si mesmo a passar para os jogadores.
E foi isso que vimos que os jogadores tinham na cabeça. Que não era preciso grande velocidade, nem era preciso ir para cima do adversário e abafá-lo, coisa que, de resto, não sabem como se faz. O tempo resolveria por eles, sem se lembrarem dos 13 pontos que, muitas vezes assim, já ali mesmo tinham deixado. À falta de ambição, de ritmo e velocidade o que é mais provável é juntar-se a falta de inspiração. E, com tudo isto, a única coisa que o tempo faz é acrescentar motivação ao adversário.
E foi isto o jogo, como é isto em quase todos. Depois, nunca se passa nada no intervalo. As substituições têm hora marcada. Sempre fora de horas. E na maioria difíceis de perceber. Taarabt, na única que mexeu com o jogo, já foi à terceira e trazia agarrada o Radonjic, de que já ninguém se lembrava.
Isto e mais uma arbitragem das do costume, de mais um árbitro do costume. Nada mais que o costume, e como de costume nada se passa. Tudo gente conformada. Para o conformado Nelson Veríssimo, se o penálti tivesse sido assinalado até poderia ter sido falhado.
Nós não nos conformamos. Mas isso passa. Eles sabem que passa depressa!