Congressos, cidadania e chalupas
Um congresso do PSD é sempre espectáculo garantido. Os do PS também têm muita televisão, mas não são bem a mesma coisa. Já não têm o suspense nem o calor (não digo glamour porque isso seria um bocado exagerado) dos antigos, que elegiam os líderes. Agora, com os líderes a serem escolhidos em eleições prévias, nesta parte do programa de festas, os congressos trocaram o espectáculo por um simples acto notarial.
Ainda assim as televisões esforçam-se por garantir o espectáculo. O resto cabe às estrelas que desfilam pelo palco, e ao público.
Marques Mendes era claramente uma das estrelas do Congresso deste fim de semana. As presidenciais estão aí. E ele há muito que, para elas, aí está. Ou por aí anda.
Não entusiasmou a plateia, apesar de, do ponto de vista dos seus interesses, ter resultado.
Apesar de muito envolvido no papel de mestre de cerimónias, Hugo Soares não abdicou do papel de bronco, que tão bem lhe assenta. Bem secundado por Carlos Moedas, também ele cada vez mais bronco. Nem assim aqueceram o ambiente.
A quem estava de fora parecia que a Produção precisava de um golpe de asa. E eis que surge um velho animador de congressos, porventura o maior de sempre. Há muito que saiu do Partido, já fundou outro, já se candidatou contra em diversas ocasiões, e é até Presidente de uma Câmara Municipal conquistada ao próprio partido. Era a dimensão "perdoa-me" do espectáculo, mas nem assim. Nem Santana Lopes em piruetas sucessivas conseguiu animar a plateia.
Chegou então Luís Montenegro, para o encerramento. Anunciou mudanças numa disciplina chamada Educação para a cidadania, incendiou o Congresso e, quando tudo tinha falhado, levou finalmente a plateia à êxtase.
Que as mudanças numa disciplina que pretende formar melhores cidadãos - nas linhas orientadoras da disciplina, ditadas pela Direcção-Geral de Educação, “a educação para a cidadania visa contribuir para a formação de pessoas responsáveis, autónomas, solidárias, que conhecem e exercem os seus direitos e deveres em diálogo e no respeito pelos outros, com espírito democrático, pluralista, crítico e criativo” - tenha sido o momento alto do Congresso diz muito sobre o PSD que ali esteve reunido.
Um PSD hipnotizado pelo mercado do Chega, disposto a tudo, até a alinhar com os mais chalupas dos chalupas, para recuperar aquele espaço perdido.