Contas feitas
O Benfica chegou hoje a Famalicão condenado pela comunicação social a carimbar a festa do Porto. Durante a semana os títulos dos jornais não faziam mais que antecipar a vitória, certa, do Porto em Tondela, a derrota, mais que certa, do Benfica em Famalicão, e a festa certa dos portistas. Com alertas a propósito, porque o vírus não aprecia festas. O próprio presidente da Câmara Municipal, e não sei do quê no clube, avisara que não iria abrir as portas.
Esperava-se que a equipa encarnada, que já dera melhor conta de si no jogo do passado sábado, com o Boavista, não estivesse pelos ajustes, e tudo fizesse para ganhar o jogo, e adiar o inevitável. É inevitável, mas tenham calma.
Durante 75 dos 90 minutos o Benfica mostrou vontade, e até qualidade para afirmar isso mesmo. Logo aos três minutos o super dragão que arbitrou o jogo transformou um penalti sobre Cervi num cartão amarelo - um dos muitos com que brindou os jogadores do Benfica - para o pequeno argentino, que foi um dos melhores da equipa. Que logo a seguir viu o guarda-redes Defendi - regressado à baliza, provavelmente pela sua história em jogos contra o Benfica - negar-lhe o primeiro golo.
Golo que só surgiria aos 37 minutos, depois da habitual série de desperdícios. Mas também depois de se perceber que alguma coisa tinha mudado: pela primeira vez desde há muito tempo o Benfica não sofria um golo na primeira vez que o adversário chegasse à sua baliza. Circunstância que, não sendo a razão por que perdeu este campeonato, porque são muitas, como se sabe, é também a razão por que o Porto, a quem nunca isso aconteceu, o vai ganhar.
Durante toda a primeira parte o Benfica mandou no jogo, foi sempre superior, e poderia ter alcançado um resultado que o pusesse a coberto das muitas incidências em que o futebol da equipa é fértil. Na primeira meia hora da segunda parte, se bem que com menos continuidade, teve sempre o jogo na mão. Golos é que não.
Depois começaram as mexidas dos treinadores. Primeiro o do Famalicão, com substituições que logo deixaram perceber que iriam mudar aquele jogo. Depois, e parecia que já tarde, o do Benfica. Percebia-se que era necessário mexer em algumas peças, fosse pela carga de amarelos que pesava sobre os jogadores do meio campo, fosse pelo esgotamento físico de outros, como Cervi, Chiquinho ou Pizzi. Mas percebeu-se logo que o melhor teria sido não mexer em nada.
Vinícius não marca. E não marcando pouco contribui para o jogo. Seferovic também não, mas dá neste momento muito mais à equipa. Samaris pode querer muito, mas pode muito pouco.E atrapalha muito. Rafa está uma lástima, uma sombra do que era há uns meses. E Jota não pode, não parece que queira, nem nunca tem tempo para demonstrar outra coisa.
E a coisa ficou assim, com os que lá estavam já sem poder dar mais, e com os que entraram a não serem capazes de fazer melhor. Ficando assim, e sabendo-se que não há jogo em que o Benfica não sofra golos, à entrada dos últimos quinze minutos, ficou claro que, não tendo marcado quando teve tanto tempo e tantas oportunidades para fazer mais dois ou três golos, o Benfica não ganharia este jogo. E só acabou por não o perder porque não calhou. Porque, ao contrário do que costumava acontecer, o adversário não fez de cada oportunidade um golo.
Acabou por impedir a anunciada festa portista. Mas, ao deixar o rival a um único ponto da conquista do campeonato, permitiu uma mini-festa que pouca diferença faz. E à vergonha que é perder um campeonato que esteve ganho, vai somar-se a vergonha de o perder com a absurda diferença pontual que se adivinha.