De peito feito
Com a bênção do Cardeal Manuel Clemente, assim como de outros membros do clero, será hoje apresentado por Passos Coelho, ao fim da tarde, o livro “Identidade e Família”, um manifesto anti-progressista, que reúne contributos de um conjunto de pessoas da direita mais conservadora, praticamente todas com passagens pelos últimos governos do PSD, ou pelas respectivas bancadas parlamentares de apoio.
Entre os alvos a abater estão a igualdade e a autodeterminação de género, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a procriação medicamente assistida, ou até a legislação que facilita o divórcio; ou mesmo escola pública que, "sequestrada por conteúdos programáticos", "retira o direito de os pais impedirem que os seus filhos sejam submetidos a essa doutrinação”. Tudo na defesa "do humanismo cristão contra o totalitarismo democrático”, e da família como a “única sociedade natural, universal e intemporal”.
Tudo isto poderia não passar de mais uma cena patusca, com ares de folclore. Os subscritores são conhecidos, a Igreja que temos também sabemos o que é, e Passos Coelho é apenas cada vez mais aquilo a que se pode "dar ao luxo" de ser. As teses são frequentemente abstrusas, como se já não fossem famílias - a mesma "sociedade natural" - todas as que vivem e sentem questões de género e de sexualidade. Como se democracia e totalitarismo fossem a mesma coisa, ou o "humanismo cristão" não seja nem humanista nem cristão.
Nesta altura, nesta precisa altura, é muito mais que isso. É o radicalismo ultra-conservador de peito feito, cheio de si.