De um a onze
Há pequenas coisas que sabe bem reencontrar. Foi com grande surpresa que hoje encontrei uma delas - um jogo de futebol em que ambas as equipas equipavam (parece pleonasmo, mas não é) com camisolas de 1 a 11, sem o nome dos jogadores nas costas. Nas de uma delas, e ainda por cima do Benfica, nada mais nas costas dos jogadores que o número. Nas da outra, do Sporting, havia publicidade.
Às vezes, nos jogos de preparação, vê-se alguma coisa parecida. Nos jogos a sério, não. O 1 ser o guarda-redes, o 2 o lateral direito e o 5 o esquerdo. O 3 e o 4 os centrais. O 6 ser 6. O 7 extremo direito e o 11 o esquerdo. E o 8, o 9 e o 10 no seu sítio, é coisa de um passado longínquo. E bom de rever.
O jogo era entre o Sporting e o Benfica, já o deixei perceber. Era o primeiro dérbi europeu em juniores, e em causa estava nada mais nada menos que o apuramento para as meias finais da Youth League, disputada a uma só mão. No caso, em casa do Sporting. Nesta categoria, os sub 19, é habitual vermos os números nas camisolas dos jogadores como que a obedeceram a uma lógica de integração no plantel sénior, com números na casa das 5, 6, 7 ou 8 dezenas, os que sobram dos seniores do plantel principal. Por isso, mais surpreendente ainda. Pode até ser que decorra de qualquer imperativo da UEFA, não faço ideia, mas nem isso diminui o efeito surpresa.
Outra agradável surpresa foi a arbitragem. O árbitro era um esloveno, de que nem sequer sei o nome. Impressionou-me a forma como conduziu o jogo, numa evidente lógica pedagógica e sempre com um enorme respeito pelo jogo e pelos jogadores. Mesmo quando teve ser punitivo. Exemplar a forma como advertiu o Pedro Santos com o cartão amarelo por, depois de marcar o primeiro golo, ir festejá-lo em frente aos adeptos adversários, naturalmente em muito maior número. E como explicou ao jovem extremo direito do Benfica que aquilo não se faz. Não é fair play e pode constituir provocação aos adeptos contrários.
A melhor das surpresas foi no entanto a qualidade da exibição individual e colectiva dos jovens jogadores do Benfica. Teve momentos de autêntico recital, e não me refiro aos longos períodos de troca e circulação de bola, que os poucos adeptos presentes em Alcochete se encarregaram de estragar com "olés". Refiro-me aos lances dos quatro golos, e a muitos outros que poderiam ter resultado noutros tantos. E exibições individuais de grande nível. Desde logo dos dois alas, Pedro Santos e Diego Moreira, cada um com dois golos. Mas também dos dois centrais - o já conhecido Tomás Araújo, e António Silva, ainda sem debutar no grupo principal, mas porventura ainda com mais qualidade - imperiais a sair a jogar. Passou por eles sempre o início da construção, e era eles que regressava a bola sempre que era necessário recomeçar a acção ofensiva.
O resto é o resultado. Uns expressivos 4-0 ao Sporting, cheio de jogadores que já debutaram com Rúben Amorim. E a quarta presença nas meias finais da máxima competição jovem da UEFA. Nas outras três o Benfica esteve sempre na final, que nunca ganhou. Pode ser que seja desta. Primeiro há ainda a Juventus!