Debates, democracia e populismo
Hoje debate-se o estado da nação. No Parlamento, onde se vai passar a debater menos.
António Costa e Rui Rio acordaram (de acordo, mas também de acordar, com espreguiçadela e tudo) em acabar com os debates quinzenais, propostos pelos próprios social-democratas há treze anos, governava um tal de José Sócrates. Tanto quanto se conhece a proposta partiu mesmo de Rui Rio, com o argumento que o chefe do governo tem de trabalhar. Primeiro ministro é para trabalhar, não é para debater, entende o presidente do PSD. Não pode fazer duas coisas ao mesmo tempo!
A António Costa dá jeito. E dá especialmente jeito que tenha partido do seu principal adversário, transformado em aliado principal.
O parlamento é o centro do debate democrático. É assim em todas as democracias. Os cidadãos já têm a sensação que a democracia lhes é limitada ao exercício do direito de voto de quatro em quatro anos. E quantos sentirem isso, mais crescerá a abstenção. Desvalorizar o Parlamento é desvalorizar ainda mais a democracia, e é acelerar a dinâmica viciosa da abstenção.
O populismo gosta disto, evidentemente. Não é preciso chamar-se André Ventura para ser populista. E já tínhamos percebido no desprezo de Rui Rio por muitos dos rituais da democracia a sua própria maneira de ser populista. E se é inaceitável que tenha imposto a disciplina de voto aos deputados do seu partido numa matéria como esta, é simplesmente chocante que, no fim, tenha declarado que o Parlamento saiu dignificado.