Depressão 2.0
Depois de falhar com o Sporting, na última jornada, no passado domingo, o Benfica voltou hoje a falhar o bónus que ontem recebera de Guimarães. Depois de no domingo falhar a liderança isolada, hoje falhou a oportunidade de a passar a partilhar com o Sporting.
Com duas derrotas consecutivas - e se não iguais, em circunstâncias muito semelhantes - o Benfica corre o risco de terminar a primeira volta a 5 pontos do Porto. Basta que, seja lá quando for, ganhe o jogo com o Nacional, na Madeira, ontem interrompido aos 15 minutos da primeira parte, novamente pelo nevoeiro.
O que é o mais provável, já que se há campeonato em que o Porto não perde é no dos outros. Perdeu os jogos com o Sporting e com o Benfica - logo aí 6 pontos - e, ainda assim, e a faltar-lhe um jogo, tem mais dois pontos (podem ser 5) que o Benfica. E menos um (que podem ser mais dois) que o Sporting.
Quer isto dizer que no fim da primeira volta o Benfica já está fora da rota do título?
Só isso não. Mas se lhe acrescentarmos o que vimos nestes dois últimos jogos, está. Claramente.
Hoje, na Luz cheia que nem um ovo, como sempre, o Benfica voltou, perante o Braga, a repetir a primeira parte de Alvalade. Sem atitude, sem intensidade, sem classe e sem rumo. Também sem sorte, mas sem nada fazer para a merecer. À primeira oportunidade de golo, logo aos 19 minutos, no primeiro erro gritante no comportamento defensivo do Benfica, o Braga marcou. Mas foi já á terceira, vinte minutos depois, no primeiro dos dois cantos de todo o jogo, que marcou o segundo.
Na segunda parte, tal como em Alvalade, a atitude dos jogadores melhorou. E isso foi suficiente para o Benfica empurrar o Braga para a sua área, e para não lhe permitir mais transições ofensivas, mas não deu para criar mais que duas ou três situações de golo. O que Arthur Cabral (entrou ao intervalo, para substituir Aursenes), marcou à entrada do último quarto de hora (bem a tempo da reviravolta, se a equipa tivesse mentalidade e querer, como se vira na véspera em Guimarães, com o Vitória a passar o 1-3 para 4-3) resultou dessa atitude. Resultou de um mau passe (Ricardo Horta) interceptado por Leandro Barreiros, que deixou a bola no ponta de lança brasileiro, que rematou de fora da área; e não de uma jogada construída.
Se todo o desempenho da equipa é perturbador, a passividade com que os jogadores abordam os jogos, a falta de rotinas e de soluções, e o estado de negação de Bruno Lage (parece a reencarnação de Schmidt) são assustadores. Já se pode dizer que por menos o alemão foi despedido. E creio que, também, que os jogadores já não estão com o treinador. E que tudo isto é a ponta do iceberg que é a (falta de) liderança no Benfica.
Nestas alturas fala-se de sorte e de arbitragens. Já falei da sorte, que a equipa não tem, nem merece. Passa-se o mesmo com as arbitragens. Não é pelas arbitragens que o Benfica está a perder os jogos, mas hoje o Luís Godinho foi tão habilidoso - em tudo - quanto fora Fábio Veríssimo.
Não é assim com os rivais, mas não é novidade. Na Madeira, logo aos 2 minutos e apesar do nevoeiro, toda a gente viu o Rodrigo Mora entrar de pitons, por trás, ao tendão de aquiles de um adversário. O Tiago Martins que, consegue até ver uma moeda num relvado inteiro, qualquer coisa como conseguir ver uma agulha num palheiro, não tinha visto ali nada mais que uma simples falta. Chamado pelo VAR a ver o que toda a gente vira, saiu do monitor a declarar que o menino de ouro do Porto tinha simplesmente sido negligente. E, seja lá quando for, o Porto vai acabar de disputar o jogo com onze jogadores.
Também em Guimarães foi mais do mesmo. St Juste empurrou pelas costas o avançado do Vitória, na sua grande área. Mas não se passou nada, como nunca nada se passa com o Matheus Reis. Com carta branca para tudo.