Desta vez não houve ressaca
Não foi com uma grande exibição que o Benfica, esta noite na Amadora, fugiu da ressaca europeia. Foi com uma exibição estranha: competente, autoritária e eficaz na primeira parte, e nervosa na segunda.
Sem grandes surpresas no onze inicial - à excepção da estreia de Manu Silva, na vez de Florentino, e ao regresso de Akturkoglu à titularidade na ala esquerda, na vez de Schjelderup, já que o regresso de Carreras, depois da ausência em Turim por acumulação de amarelos, era esperado - a surpresa foi na primeira parte a posição de Di Maria. Que fugiu da ala direita, para deambular pelo campo todo, como um 10 vagabundo, contribuindo decisivamente para a enorme superioridade que o Benfica foi construindo a partir do domínio do meio campo.
O Benfica entrou muito forte. E ainda por cima eficaz, o que é raro. Aos 5 minutos já Otamendi marcava o primeiro golo, a partir do primeiro canto. O árbitro João Pinheiro não viu que a bola entrara, e teve de vir do VAR a validação do golo. Aos 7 minutos.
Três minutos depois chegava o segundo. Livre de Di María, na esquerda, com o Dramé, o gigante central do Estrela, a roubar o golo a Pavlidis, ao desviar a bola para a própria baliza. Era o Benfica com o domínio absoluto do jogo, com grande mobilidade, e excelente circulação de bola, com o estreante Manu em especial relevo, com o seu futebol de um só toque.
Estava o jogo nisto quando, à beira da meia hora, o lateral Diogo Travassos chegou às cercanias da área de Trubin, passeou com a bola da direita para o centro, sem ninguém o incomodar muito e rematou. O resto foi Otamendi a desviar a bola para a baliza, para fora do alcance do seu guarda-redes.
É assim: não é preciso muito para o Benfica sofrer golos.
Foi como se nada se tivesse passado. O jogo prosseguiu nos mesmos termos, e pouco mais de 5 minutos depois, novamente depois de um canto, o golaço de Pavlidis repôs a diferença dos dois golos no marcador. A uma boa exibição o Benfica aliava uma eficácia notável, e pouco comum. Só não foi total porque em cima do intervalo o chapéu de Akturkoglu acabou na trave, e não dentro da baliza.
Depois veio a segunda parte. Contra o vento, sem que se tivesse notado que o Benfica tinha jogado com ele a favor, na primeira. Na realidade só o Estrela quis jogar com o vento. E jogou!
E como não é preciso nada para o Benfica sofrer golos, logo no arranque da segunda parte, mais por Trubin que pelo vento, e mais pelo Dramé (uma carraça daquele tamanho nas costas de Pavlidis, no campo todo, para secar a capacidade de construção do avançado grego) que pelo Pavlidis, a bola acabou por ir parar à frente do Chico Banza, que só teve de contornar Trubin para marcar. E deixar o resultado no tangencial 3-2.
Faltava praticamente toda a segunda parte para jogar. Melhor, para passar. Jogou-se pouco. O Benfica intranquilizou-se, o Estrela jogava com o vento, e os jogadores passaram a passar mais tempo no chão que a jogar a bola. E como está demonstrado que não é preciso nada para o Benfica sofrer golos, poucos acreditavam que no meio daquilo tudo não surgisse o golo do empate.
Quando, já perto dos 90 minutos, Arthur Cabral falhou o penálti que reporia a tranquilidade, soou a "déjá vue". E a maldição.
Vá lá que tudo acabou em bem. Houve sofrimento, mas nunca houve verdadeiramente risco de o Benfica não ganhar o jogo. Que poderia ter ganhado de goleada, mas acabou por ganhar à rasquinha.