Brexit day*
Chegou hoje finalmente o dia do brexit. É irreversível, a partir de hoje os britânicos não fazem mais parte da União Europeia, um clube onde – pensava-se – só havia quem quisesse entrar.
Os ingleses, que sempre desempenharam o papel principal na História da Europa, e particularmente decisivo no desfecho das duas grandes guerras que rebentaram no continente, e se espalharam pelo mundo, no primeiro terço do século passado, nunca foram verdadeiros entusiastas da integração europeia.
Mesmo que tenha sido Churchill, no final da guerra, a lançar a ideia, a verdade é que se pôs de fora logo que ela ganhou forma (mesmo que seja também verdade que De Gaule sempre lhes fechou a porta), e o Reino Unido já não integrou o restrito grupo dos fundadores da Europa. Entraria mais tarde, em Janeiro de 1973, com a Irlanda e a Dinamarca, e foram 47 anos de permanente turbulência, com um pé fora e outro dentro. E sempre fora da união monetária, a que recusou determinantemente aderir.
Os despojos do seu vasto império colonial, reunidos na Commonwealth, e a imponente praça financeira da sua capital, sustentaram-lhe sempre o pé que deixava de fora, pelo que um desfecho como este teria sempre o condão de não surpreender muita gente.
No entanto parece claro que não seria esta a melhor altura. Porque a Europa se encontra num período de irreversível perda de relevância no contexto mundial, mas também porque esta é uma decisão das gerações britânicas mais velhas, em choque frontal com a vontade dos mais novos.
O Brexit, cujas reais consequências ninguém neste momento consegue avaliar em toda a sua extensão, e baseado em mentiras, falsidades e manipulações várias, surge em pleno contraciclo. Em contraciclo com a dinâmica da História que se vai fazendo neste primeiro quartel do primeiro século do milénio mas, acima de tudo, em contraciclo com a dinâmica natural da própria sociedade britânica.
* A minha crónica de hoje na Cister FM