Doce-amargo*
Hoje deveria falar só de coisas doces, tão doces como as que por cá temos em exposição desde ontem e até domingo. Porque é de doces, e dos melhores, que se trata… Mas também porque é um dos mais bem conseguidos eventos de promoção da nossa terra, que verdadeiramente projecta Alcobaça no país… e no mundo. Porque hoje as coisas são assim, correm mundo com grande facilidade.
Pena é aquela porta de entrada por onde todos os anos recebemos os milhares de visitantes que o evento chama. Pena é aquele penoso corredor entre o parque de estacionamento e o acesso à nossa melhor sala de visitas, que temos de fingir que não vemos.
De tanto fingir que não vemos, parece-me até que já não vemos mesmo. Que aquelas montanhas de silvas entre escombros fazem já parte do nosso património, uma coisa assim como … o castelo. Mas mais pitoresca…
Não adianta continuar a fingir que aquelas ruínas não nos enchem de vergonha na mesma conta em que se enchem de silvas. Nem podemos ignorar que, com coisa tão amarga à entrada para a sala de visitas, dificilmente a “cidade dos doces conventuais” poderá “dar lugar ao amor”.
Esta é a vigésima edição deste prestigiado acontecimento, que sempre conviveu com aquela desgraça urbana. Vinte anos, é muito tempo, como dizia a canção. É uma geração… Há gente nasceu, cresceu e se fez homens e mulheres sem conhecer ali outra coisa.
Creio que a “Mostra internacional de doces & licores conventuais” não pode continuar a conviver com esta vergonha. Deixava por isso aqui um desafio à Câmara Municipal: uma proposta simples, mas séria. Propunha simplesmente que, no anúncio da próxima edição, na XXI Mostra internacional de doces & licores conventuais, em todos os cartazes e folhetos promocionais, a Câmara Municipal pedisse desculpa aos alcobacenses e aos visitantes, e garantisse que estava empenhada, e a desenvolver todos os esforços, para encontrar uma solução.
Basta isto. Bastando, evidentemente, que sobre vergonha para não repetir os cartazes por mais vinte anos.
* A minha crónica de hoje na Cister FM