Duas caras com as mesmas caras
Para a curta deslocação à Amadora Roger Schmidt repetiu as suas habituais opções na equipa. Repetiu de tal forma que até voltou a mudar na posição 9 entregando, desta vez, a titularidade a Arthur Cabral. E, com a mesma cara, o Benfica voltou a ser igual ao dos últimos jogos, alternando entre momentos depressivos e outros próximos da perfeição.
Na primeira meia hora andou sempre mais perto do seu registo exibicional mais negativo que doutra coisa. Baixa agressividade, baixa velocidade, e baixo ritmo. E, com tanta coisa em baixo, era difícil que o Estrela não fosse bem sucedido na sua estratégia, muito semelhante à da maioria das equipas que defrontam o Benfica, bem conhecedoras daquele modelo de jogo. A equipa da Amadora mostrou que estava preparada para explorar as dificuldades do Benfica em ataque continuado, mas também para contrariar o seu lado mais forte - as transições ofensivas. Defendeu em "bloco baixo", e quando subiu conseguiu fazê-lo sem deixar muito espaço nas costas mas, especialmente, a pressionar com grande agressividade quer o portador da bola quer os espaços.
Sem velocidade, e sem grande inspiração, os jogadores do Benfica não conseguiam romper a "teia" que os da Amadora iam, cada vez mais confortavelmente, tecendo. Não se pode dizer que o golo do Estrela fosse, naquela altura, à beira da meia hora de jogo, a coisa mais esperada deste mundo. Mas pode dizer-se que se adivinhava com alguma facilidade.
Nem isso despertou o Benfica, que continuou refém das opções mais discutíveis (e discutidas) de Schmidt, seja na ala esquerda, seja no meio campo. E o jogo encaminhava-se para o intervalo, a prometer mais uma noite de sofrimento. Valeu a qualidade dos jogadores, e uns momentos de inspiração para dar a volta ao resultado é à história que o jogo estava a escrever.
Em dois minutos - o último antes dos 45, e o primeiro dos da compensação - Di Maria, Cabral e Rafa soltaram o génio e resolveram. Primeiro com uma espectacular "bicicleta" de Cabral a concluir um passe de génio de Di Maria. Depois, com Rafa, num remate de grande execução, a responder ao passe do brasileiro, novamente descoberto pelo rasgo do argentino.
O resultado ao intervalo, ainda assim justificado pelas oportunidades de cada equipa - o Estrela dispusera de duas e o Benfica de, pelo menos, quatro - não ajudou apenas a serenar o Benfica. Ajudou a galvanizar a equipa.
Ao intervalo Schmidt fez apenas uma substituição. E porque a ela foi obrigado pela lesão de Kokçu - a agressividade do Estrela foi muitas vezes muito mais do que isso, foi mesmo, e continuou a ser, dar no osso sem dó nem piedade - com a entrada de Florentino. Fez-se sentir: Kokçu não faz o mesmo, nem nada que se pareça. É um desperdício naquela zona do terreno, mas o treinador é que sabe.
Por força dessa alteração, ou não (custa a crer!), o Benfica passou para a segunda parte como da noite se passa para o dia. E, então sim, passou para uma exibição que passou por momentos de grande brilhantismo, ficando a dever ao marcador uma boa mão cheia de golos.
Otamendi, em recarga a um remate ao poste de Cabral, fez o terceiro ainda dentro dos primeiros dez minutos, e o Benfica dominou por completo o jogo. Antes, mas também depois, de mais umas quantas oportunidades de golo. E o quarto, novamente de Marcos Leonardo, um quarto de hora depois de ter entrado, acabaria apenas por aparecer já no período de compensação.
Não acabam aqui - na exibição da segunda parte e no golo que deu a mínima expressão ao reultado - as boas notícias desta noite. Houve mais: o regresso de Bah, a juntar ao de Neres (entraram ambos com Marcos Leonardo), e a estreia de Rollheiser, mesmo que apenas por cinco minutos. Má notícia é que Álvaro Fernández nem sequer tenha saído do banco.
O Estrela jogou os últimos vinte minutos com menos um jogador, o que terá sido o seu maior sucesso. Com tanto "pau que deu", chegar ao fim com apenas um jogador expulso bem podia ser uma das principais notícias do jogo.