É a educação, estúpido!
O debate de ontem à noite, entre os líderes das nove formações com representação parlamentar, na RTP, acabou por ser o único no registo de todos contra todos. E mostrou como teria de ser o único. Aquilo nem é fácil de gerir - na RTP só mesmo o Carlos Daniel tinha condições para o fazer, e bem, como fez - nem permite grandes esclarecimentos.
Não houve surpresas relativamente aos debates em duelo que marcaram as duas primeiras semanas do mês, ainda antes da abertura oficial da campanha. Não foi dito nada que não tivesse já sido dito, e em muitos caso até à exaustão. E,sobressaiu quem já tinha sobressaído no anterior modelo - justamente Cotrim de Figueiredo e Rui Tavares.
Em tudo o resto, o normal nestes debates. Perguntas que ficam sem respostas - muitas, e da parte de todos, mesmo que aí Costa seja imbatível -, respostas enviesadas, e respostas precipitadas.
Neste domínio o debate terá ficado marcado pela resposta que deu a Cotrim de Figueiredo sobre a ultrapassagem de Portugal pelos países do leste, chegados muitos anos depois à União Europeia. Ao seu jeito, António Costa passou rapidamente por cima da pergunta. Foi logo cercado, e não o deixaram prosseguir sem essa resposta. E ela veio célere da boca do líder do PS: "a isso responde a História". E prosseguiu o seu caminho, como se a questão tivesse ficado respondida.
Não tinha, mesmo que a resposta fosse aquela. E estivesse certa. Só que, dada daquela forma, "en passant" , numa espécie de "deixem-me prosseguir e não me chateiem", não era resposta. Era gafe, para gáudio de adversários e comentadores.
É realmente na História que está a explicação para que boa parte dos países de leste, saídos da esfera soviética há 30 anos e há menos de 20 na União Europeia, tenham encontrado ritmos de desenvolvimento que lhes permitissem ultrapassar outros, como Portugal, há muito mais tempo integrados no projecto europeu. É que esses países dispunham de sistemas de educação efectivos e encontravam-se em patamares qualificação bem mais elevados que os de Portugal.
A resposta poderia ter sido simples, e inspirada no "é a economia, estúpido", de James Carville, que tanto jeito deu a Clinton, e que ficou a marcar a História do debate político: é a Educação, estúpido!
Tinha perdido o mesmo tempo, e prosseguido a sua rota pré-estabelecida, e saía com um golo de chapéu ao guarda-redes, do meio campo.
Para outra resposta já teria que perder mais tempo - e referir o desenvolvimento industrial de alguns desses países -, ou até recorrer a argumentos eventualmente inconvenientes, como o facto praticamente nenhum desses países integrarem o euro.