"É o costume"
Os resultados das eleições em Angola na semana passada estão a ser contestados pelas forças políticas da oposição. Dir-se-á, e di-lo à boa cheia o MPLA, que é o costume. Que, se sempre assim foi, por que é que não seria assim agora?
É verdade que sempre assim foi, como é verdade que sempre existiram razões para que assim fosse. É se calhar por isso que também desta vez não tenham faltado razões para desconfiar dos resultados.
Os resultados conhecidos são ainda hoje provisórios e, mesmo com menos votos e menos deputados, deixam o MPLA com 150 deputados, dentro dos seus oblectivos eleitorais da maioria de 2/3. Os mesmos resultados que, logo no dia seguinte, o porta voz do MPLA anunciara. Pouco depois confirmados pelo porta-voz Comissão Nacional de Eleições (CNE), ainda sem estar na posse dos resultados do escrutínio. De que se demarcaram os comissários nacionais da CNE, em conferência de imprensa que as televisões do regime pura e simplesmente ignoraram.
Se isto não são razões para desconfiar dos resultados divulgados, e já assumidos pela imprensa portuguesa, e pelo próprio Presidente da Repíblica, como assunto arrumado, imitam-nas muito bem.
A diferença é que agora é bem capaz de haver condições para passar da suspeita para o apuramento da verdade. É que, ao que se diz, há fotografias dos resultados da contagem de votos afixados em cada uma das mais de 12 mil mesas de voto. Contar os votos a partir dessas fotografia é capaz de ser coisa demorada, e não será fácil dar-lhe eficácia administrativa e processual. Mas, quem quiser conhecê-la, ficará a conhecer a verdade dos resultados destas eleições.
E dizer "que é o costume" será então dizer mais qualquer coisa ...