E passou a haver outras coisas para contar XIII
Por Eduardo Louro
Em carta enviada - mais uma - à Comissão de Inquérito Parlamentar do BES, Ricardo Salagado veio agora informar que, para além dos pedidos de apoio escondidos mas já conhecidos, também bateu á porta do Presidente da República e do vice-primeiro ministro, Paulo Portas. Em Maio, poucos dias antes do aumento de capital!
Quer isto muito simplesmente dizer que, somando estes dois contactos aos outros já conhecidos e igualmente ocorridos em Maio, que antes do aumento de capital, tiveram conhecimento das dificuldades do BES e do GES, através do pedido de apoio que Ricardo Salgado - que pelos vistos todos lhe negaram -, o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, o presidente da República, Cavaco Silva, o primeiro ministro, Passos Coelho, o vice-primeiro ministro, Paulo Portas, a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque o secretário de estado Carlos Moedas, e o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa.
Com o chico-espertismo que caracteriza Paulo Portas, o CDS emitiu um comunicado pretendendo matar a notícia com a simples nota que não tinha dado provimento às pretensões do líder do BES. Todos os restantes - à excepção de Cavaco, que esse acha que não deve explicações a ninguém -, depois de conhecidos esses encontros disseram, exactamente o mesmo. Ele veio pedir ajuda, mas nós negamo-la. Não nos envolvemos com interesses privados, disseram em coro!
Não é evidentemente isso que está em causa. Em causa está simpelsmente que, curiosamente ao contrário de todos os administradores do BES já ouvidos na Comissão de Inquérito, toda a gente, do governo ao presidente da República, passando por Durão Barroso, conhecia as dificuldades do grupo e do banco. E todos eles, com Cavaco em primeira linha e, manhoso, escudando-se em informações recebidas do governo e do governador do Banco de Portugal, proclamaram a saúde financeira do banco, e as almofadas financeiras para fazer face à exposição ao grupo. O que quer rigorosamente dizer que foram coniventes com a gigantesca burla que foi o aumento de capital do BES, em que cairam milhares de pequenos aforradores. E não só, embora os outros tenham tido tempo e informação para virar a agulha e minimizar perdas!
Note-se que, ao contrário do que Cavaco já quis fazer crer, é completamente irrelevante que as declarações tenham sido proferidas antes ou depois do aumento de capital. O que releva é que essas afirmações foram feitas por quem conhecia os problemas do banco e do grupo. Que os conhecia e que sabia que não tinham solução. De outra forma não se perceberia a recusa de qualquer tipo de ajuda ...
A Comissão de Inquérito quer agora chamar Paulo Portas e Cavaco, sendo que ao Presidente da República assiste o direito - de que, sendo quem é, evidentemente não abdicará - de não comparecer, e responder por escrito. Saberá certamente encontrar mais uma boa desculpa, mas já não encontrará certamente quem o desculpe. Está em todas!