Em estado de recuperação
Era a jornada de manifestação contra o racismo, uma luta que infelizmente continua a justificar-se. Em vez do nome, os jogadores ostentavam nas costas "racismo não". Não os de todas as equipas, a equipa do desordeiro - espero sentado pelas reacções da Liga à pouca vergonha de Portimão - não participou nesta manifestação. Dali não dá para esperar manifestações de desportivismo, fair play e outras coisas da educação e do civismo, como se tem visto. Apenas grosseria, deselegância e faltas de respeito!
Mas era também a jornada decisiva para o Benfica, com esta deslocação a Braga de grande expectativa. Desde logo porque era decisiva, não ganhando este jogo o Benfica ficaria decisivamente arredado da luta por um lugar de acesso à Champions, com tudo o que isso representa. Mas também para aquilatar se a equipa está realmente em recuperação. Era a prova do algodão, como aqui dissera a semana passada.
Este jogo de Braga disse que - o algodão não engana - o Benfica está em recuperação. Não se pode dizer que esteja recuperado, porque esta época já não tem recuperação possível. Este estado de "em recuperação" já só dá para acalentar esperanças para o segundo lugar e para a Taça.
O Benfica entrou bem no jogo, de novo com três centrais e com os jogadores confiantes, a jogar bem. E sempre por cima do Braga. A princípio chegou a parecer que seria um jogo sem balizas, com ambas as equipas a trocarem bem bola, e com boas dinâmicas de jogo, mas sem remates. Ideia que só a partir de meio da primeira parte começou a ser contrariada, mesmo que o primeiro remate tenha surgido aos 7 minutos, e com ele a primeira oportunidade de golo. Para o Benfica, claro. Grimaldi, isolado, permitiu a defesa a Matheus. Porque não rematou de primeira, como devia, e como Rafa, a assistência de Seferovic, fez a fechar a primeira parte, no primeiro golo.
O meio da primeira parte não trouxe apenas os remates. Trouxe também o remake de um facto histórico, com o árbitro Luís Pinheiro a assinalar um penalti a favor do Benfica, infringindo a lei, e com o VAR a voltar a impedir essa infracção. Exactamente como há uma semana. Então o VAR inventou que a falta se marca onde se inicia, e não onde acaba. Agora, com a ajuda das linhas manhosas, inventou um fora de jogo de 10 centímetros a Seferovic, que nem as imagens nem as linhas confirmam. Portanto, tudo normal - não há penaltis a favor do Benfica!
Com a expulsão de Fransérgio, com segundo amarelo, a cinco minutos do fim da primeira parte, a superioridade que o Benfica vinha demonstrando acentuou-se ainda mais. Naturalmente, mesmo que o Braga se tenha sempre batido bem.
Na segunda parte o tom do jogo manteve-se, e cedo, logo aos 56 minutos o Benfica chegou ao segundo golo, por Seferovic, agora com troca de papéis com Rafa. E fechou o resultado, porque o guarda-redes bracarense negou mais dois ou três golos (a defesa ao espectacular remate de cabeça de Sefeverovic, aos 67 minutos é de outro mundo). Porque Waldschmidt, Seferovic, Rafa, Taarabt e Pizzi desperdiçaram excelentes ocasiões. Mas também porque num livre de João Novais a bola bateu na barra, sem que Helton Leite pudesse fazer grande coisa para evitar o golo, na segunda e última oportunidade do Braga em todo o jogo.
De resto, do jogo, para além da vitória e da subida ao terceiro lugar, ficam três notas. Duas positivas, e uma negativa. A segurança defensiva - o quinto jogo consecutivo sem sofrer golos - e a forma como a equipa controlou o jogo - e o resultado - com bola (contra 10 é mais fácil, bem sei!) contra uma das equipas que melhor sabe estar em campo. Pela negativa, o velho problema da linha de fundo. A equipa continua sem chegar à linha final para cruzar. Neste jogo só lá chegou por uma vez, por Grimaldi. Mas, la chegado, logo a bola voltou para trás. Porque a equipa não está mecanizada para este tipo de lances, fundamentais e decisivos num jogo de futebol.
Não está a arrasar, nem lá chegará. Mas está a correr bem. Defender bem impede que o adversário marque na primeira vez que chega à baliza, como acontecia há uns meses, e isso ajuda muito. Vamos a ver se esta paragem para os compromissos das selecções não vai estragar…