Enterrar bem fundo a dignidade
Marcelo perdeu definitivamente a impunidade. Podia dizer tudo o que lhe apetecesse, dos maiores disparates à maiores provocações, que ninguém levava a mal. Deixou de ser assim. Não se sabe se ele percebeu que deixou de ser assim, e sabe-se até que ele não deixará de ser assim, um irresponsável incontinente verbal que se acha acima da crítica.
Todos o ouvimos dizer que os 400 casos de abusos de menores na Igreja não era um número elevado. Foi claro e directo, e sem deixar espaço a qualquer interpretação, nem a qualquer equívoco. Tratou, sem margem para qualquer dúvida ou interpretação diferente, de desvalorizar o grau de aberração e a gravidade dos crimes continuados da Igreja Católica, na linha, aliás, de intervenções anteriores - públicas, ou privadas, como os conhecidos telefonemas a avisar figuras da hierarquia da Igreja que estariam a ser investigadas.
Se isso é repugnante, a emenda que tentou fazer sobe o nível do nojo. Vir depois dizer que fora mal interpretado, e que quisera apenas dizer que achava que seriam muitos mais. ainda assim continuando a meter os pés pelas mãos, é apenas cavar mais fundo no descrédito para enterrar definitivamente o último assomo de dignidade exigido a um Presidente da República.