Entre a coisa e o símbolo (ou outra maneira de olhar para as eleições na Catalunha)
Por Eduardo Louro
Elegendo mais deputados, os partidos independentistas da Catalunha não obtiveram mais votos, trazendo à evidência uma possibilidade que por cá se tem posto.
Mau grado as paralelas que a História tantas vezes traçou entre Portugal e a Catalunha isso não tem importância nenhuma. Importante - seja para lado for - é que ainda não foi desta que a questão da independência foi resolvida. Por muito que os independentistas - o Juntos pelo Sim, de Artur Mas e da Candidatura de Unidade Popular (CUP) - possam dizer que é um resultado que lhes permita avançar para a independência de forma unilateral, a verdade é que, na maior participação eleitoral dos últimos anos, que mobilizou o voto de perto de 80% dos catalães, a maioria dos votos expressos – 51,94% - foi para partidos que não defendem esse caminho.
Há precisamente uma semana, num programa de uma rádio, onde falava de coisas à volta do futebol, para exemplificar a ligação entre futebol e política, referi o Barça como bandeira do nacionalismo catalão, para perspectivar o paradoxo dessa ligação nas eleições de ontem. Ao anunciar que não aceitaria a inscrição de clubes estrangeiros, a posição da Federação Espanhola de Futebol estava a deixar claro que, numa Catalunha independente, o Barcelona ficaria impedido de competir na Liga espanhola, e assim imediatamente ameaçado no seu estatuto de uma das maiores potências do futebol mundial e, consequentemente, morto como bandeira da nacionalidade.
Não sei se alguém dedicará algum tempo a investigar a influência deste paradoxo nos resultados eleitorais de ontem. O meu palpite é que, tendo que escolher entre a coisa e o seu símbolo, os catalães preferem o símbolo.