Espírito Santo ... de orelha
Por Eduardo Louro
Com o arranque da negociação dos direitos de subscrição é dado hoje o pontapé de saída no processo de aumento de capital do BES que decorre das dificuldades financeiras do grupo que têm vindo a público.
A este aumento de 1045 milhões de euros no capital do Banco, juntam-se outros, em particular no capital da holding dos negócios não financeiros do grupo – Rio Forte. Tudo somado são 2745 milhões de euros, que o grupo terá de ir captar ao mercado nacional e internacional no mais curto prazo de tempo para evitar males maiores, incluindo ter de recorrer ao fundo de capitalização da banca – de que o BES fizera ponto de honra em afastar-se –, onde ainda restam 6 mil milhões. E junta-se a alienação de activos imobiliários em Portugal e no estrangeiro, especialmente no Estados Unidos.
As dificuldades financeiras do grupo poderão até ser resolvidas com estas medidas de emergência em curso. Mas o banco – e o grupo – não atravessa apenas dificuldades financeiras… Acrescem sérias dificuldades de reputação … E a essas não há capital que acuda!
Foi multado em Espanha por problemas de branqueamento de capitais, e está a ser investigado no s Estados Unidos por infracções idênticas. O próprio Ricardo Salgado também passou por problemas com as suas declarações fiscais, para o que contou, como de resto é costume, com a complacência da administração fiscal…
A forma como o grande público tomou conhecimento do descalabro financeiro também não abona. Foi o próprio Ricardo Salgado, cabisbaixo e longe daquela pose altiva com que fazia recomendações ao poder político e dava opiniões de governação que, obrigado a esclarecimentos no quadro da operação de aumento de capital, veio a público prestar a informação e – pasme-se – culpar o contabilista. Não foi porque os reguladores, o Banco de Portugal – que inclusivamente havia pedido a auditoria externa que detectou "irregularidades materialmente relevantes" que esconderam 1200 milhões de dívidas nas contas de 2012 - e a CMVM, tivessem cumprido com a sua obrigação de informar…
Não admira por isso que, quando tudo isto acontece num grupo que é o expoente máximo do regime, de onde ao longo dos últimos 30 anos têm saído deputados, ministros, dirigentes de políticos de toda a espécie e administradores de empresas e demais orgãos do Estado, a única demissão tenha sido a do contabilista… E que quase só por espírito santo de orelha se fosse sabendo destas coisas!