Estranha-se, depois entranha-se
Quando é impossível esconder mais a "chafurdice" onde o governo está atolado, Carlos César, que dispensa apresentações, reclama remodelação. Uma remodelação que associe "a experiência de uns e o entusiasmo de outros".
A primeira coisa que se estranha - mas que pode ser que se entranhe - é que o Presidente do PS não tenha passado este conselho ao chefe do governo num dos, seguramente muitos, momentos de encontro. Ou, vá lá, numa pausa para café ou, no limite, numa simples chamada telefónica. Que, ao contrário, tenha escolhido "pôr a boca no trombone", numa entrevista ao "Público".
Claro que a remodelação - e profunda - do governo, é a única coisa que resta a António Costa para sair do atoleiro em que está metido. E a única que tem à mão para tentar acalmar as tentações do Presidente Marcelo, mais que anunciadas e, desta vez, à beira de registos mais solenes.
É por ser tão claro que mais estranho é, ainda, que Carlos César tenha guardado este conselho para o anunciar com este estrondo. E, assim, deixar ainda mais a claro as dificuldades do primeiro-ministro. Até porque, se esta proeminente figura dos socialistas, não "andar na lua", saberá muito bem que não haverá por aí muitos "uns" com "experiência" disponíveis para se mandarem de cabeça para a lama imunda onde esta maioria se enfiou, empurrada justamente pelo "entusiasmo" dos "outros".
Gente entusiasmada é que não tem faltado. Tanta, e com tanto, que deu nisto.
A não ser que Carlos César esteja a reivindicar um lugarzinho no governo. Ou, se calhar, até dois - associando nele próprio a "experiência" e o "entusiasmo". Então sim, já não se estranha. O pior é que se entranha!