Estratégia errática
Este governo não está apenas em desorientação total, com casos e casinhos diários; continua sem rumo, sem estratégia e sem seriedade.
Na sua proposta salarial para a administração pública, ontem apresentada pela ministra Mariana Vieira da Silva, insiste em trapalhadas, habilidades e truques, como já fizera no anúncio da actualização das pensões. Mistura números para atirar com números, e chegar a médias a partir de somas de alhos com bugalhos.
De tudo isso ressalta que não tem uma estratégia para o país, e que, afinal, a maioria absoluta não serve para mais nada que gerir o curto prazo. Que a estratégia para o país não vai além da orçamental, e que, para além do curto prazo do orçamento anual, apenas vê o médio prazo das próximas eleições.
Há poucas semanas o governo reconhecia que tinha um problema de salários no problema do Serviço Nacional de Saúde. E prometia resolvê-lo, em particular no caso dos médicos. Há poucos meses reconhecia que o país tinha um problema de salários. E que nem era tanto de salário mínimo, mas de salário médio. Há poucos meses anunciava que o objectivo da legislatura era aproximar o peso dos salários no PIB ao da média da média europeia, o que implicaria um aumento médio dos salários em reais em 20% no conjunto dos próximos quatro anos. Há poucas semanas, ou meses, reconhecia a necessidade absoluta de reter cérebros, de evitar que os mais qualificados continuassem a sair do país. Há poucas semanas, ou meses, reconhecia que a Administração Pública, a Saúde, ou a Educação, teria que ter condições para atrair os melhores. Há poucas semanas, ou meses, dizia que isso se conseguiria premiando os melhores desempenhos.
Ontem, com a proposta apresentada, percebeu-se que nada disso era para levar a sério, e que tudo é para continuar inamovível. Que apenas os salários alinhados com o SMN são aumentados em linha com a inflação. E que basta um vencimento bruto acima de 2.600 euros para se ficar com 2% de aumento nominal, e voltar a cortar - o governo não gosta do verbo, mas é o que é, sem volta a dar-lhe - mais 6% nos salários.
Nas palavras, a solução é aumentar salários. Nos actos, é cortá-los. É esta a estratégia errática de António Costa!