Experiência nada recomendável
Não houve diabo, esta noite na Luz. Que não encheu, mas que estava bem composta, com perto de 55 mil adeptos nas bancadas. Mesmo que o primeiro remate, e a primeira oportunidade, tenha pertencido ao Benfica, logo no arranque do jogo para, logo a seguir, no seu primeiro remate, o Rio Ave tenha marcado.
Ainda não tinha dado para perceber o que o jogo teria para dar e, aos nove minutos, o Rio Ave já ganhava. Percebeu-se logo a seguir, quando se começou a ver que que o Benfica não conseguia reagir ao golo sofrido, e que o Rio Ave punha e dispunha do jogo praticamente a seu belo prazer. Dominava o meio campo, onde os seus jogadores chegavam sempre primeiro à bola, e ganhavam todos os ressaltos, e impunha o ritmo do jogo.
Foi assim durante praticamente toda a primeira parte, com o Benfica apenas com um ou outro "salpico". Num deles, às portas da meia hora, numa transição de Rafa (tinha que ser!), ao segundo remate - foram vinte e três minutos sem rematar - e à segunda oportunidade, marcou. A assistência de Rafa foi primorosa para um grande golo de Di Maria, daqueles que só ele mesmo consegue marcar.
Esperava-se que finalmente, e com o golo do empate, se invertesse definitivamente o rumo do jogo. Mas não. O Rio Ave continuou a ser melhor equipa, e o Benfica não conseguiu muito mais que mais dois ou três "salpicos" já com o intervalo à vista, com o guarda-redes vilacondense a evitar o golo com duas grandes defesas. Primeiro a João Mário, com um vistoso chapéu e, logo a seguir a Rafa.
Esses cinco a dez minutos finais fizeram com que, ao intervalo, as estatísticas revelassem um equilíbrio, que na realidade era ilusório. Na posse de bola (52-48%), nos remates (4-5), com todos os do Benfica enquadrados, e apenas um do Rio Ave fora do alvo, e com dois cantos e três oportunidades de golo para cada lado. E fizeram, até porque as últimas imagens são sempre as que mais ficam, as bancadas - de onde tinham começado a sair os primeiros assobios - acreditar que o pior tinha passado, e que a segunda parte colocaria as coisas no devido sítio.
Foi no entanto mais uma ilusão. O recomeço da partida voltou a trazer um Rio Ave melhor, e dominador. Não havia diabo, mas ele estava lá, bem dentro da exibição do Benfica. Nos primeiros três minutos a bola foi parar duas vezes ao poste da baliza ... de Trubin. E o pesadelo (a lembrar aqueles 20 minutos com o Famalicão, no último jogo do ano) prolongou-se até ao fim do primeiro quarto de hora.
Nunca ninguém poderá garantir que, não tivesse sido a expulsão (dois amarelos em menos de dez minutos) do defesa do Rio Ave, dois minutos antes, o pesadelo tivesse acabado tão cedo. Mas que o jogo mudou aí, não há dúvida. E o Benfica tomou então, finalmente, o comando claro do jogo.
O livre resultante da falta (corte com a mão de uma jogada prometedora) que ditou o segundo amarelo ao defesa do Rio Ave, cobrado por Di Maria, acabou numa grande defesa do guarda-redes, para canto. Que repetiu para evitar o golo no canto directo do mágico argentino. Novo canto que acabou no golo da reviravolta, de António Silva.
Logo a seguir, na tripla substituição de Schmidt - que já estava programada - assistiu-se à estreia de Marcus Leonardo (entrou a substituir Arthur Cabral, como Florentino e Tiago Gouveia substituíram Kokçu e Di Maria), a primeira contratação de inverno. Que marcou aos 80 minutos, dezassete depois de ter entrado. Na estreia, a fazer lembrar Jonas. Que foi o que sabemos.
A partir do golo da reviravolta, então sim, foi um festival de oportunidades. E foram apenas mais dois golos (o último, de João Mário, em mais uma assistência espectacular, de trivela, de Rafa, no primeiro dos três minutos de compensação) porque quer Tiago Gouveia, que mexeu completamente com o jogo, quer o estreante Leonardo queriam muito marcar. E, de tanto quererem, e tanto tentarem, acabaram por eliminar as muitas ocasiões de que desfrutaram.
Com aquela meia hora final, o Benfica passou das 3 oportunidades de golo, ao intervalo, para 14; e o Rio Ave das mesmas três para cinco, com as tais duas bolas nos postes, nos primeiros três minutos da segunda parte. E, no fim, as estatísticas não foram mentirosas. O Benfica acabou por ganhar bem, mas lá que podia ter sido o diabo, podia.
Não se recomenda que se repita a experiência. É mesmo perigoso!