Explorar os limites ao limite

Quando André Ventura diz que Portugal precisa de três Salazares fá-lo por provocação, de que se alimenta. Para nunca sair do topo da agenda mediática, que é o seu suplemento vitamínico.
Mas também por conhecer o seu público. Ele sabe que é isso que os seus seguidores querem ouvir. Sabe que a sua plateia não sabe, nem quer saber, quem foi Salazar. Ele próprio não sabe, nem quer saber: quem evoca três Salazares para acabar com a corrupção não pode saber o que foi Salazar, nem a História nem, se calhar, o que é corrupção. Sabe que os seus seguidores querem ouvir coisas assim, que indignam uns, mas que são aplaudidas por muitos outros. E sabe que assim introduz na agenda mediática os temas que quer pôr o país a discutir. Que assim o país discute o que ele manda discutir. Que é assim que se normaliza o que nunca seria normal, e que se deslocam os limites na sua direcção.
Quando espalha pelo país que "isto não é o Bangladesh" André Ventura dá mais um passo na provocação, numa espécie de tentativa de apurar a dose. Ele sabe - um saber de experiência feito - que a cada escalada, a cada incremento de provocação, os limites cedem. E ele sabe que (e como) cresce a cada cedência.
Cabe neste caso ao Ministério Público não ceder em mais um limite. Mas também isso coube em diversas ocasiões ao Tribunal Constitucional...