Fantasmas
Depois da derrota na Supertaça com o Porto, e face ao baixíssimo nível exibicional que a equipa vem apresentando, o último jogo do Benfica neste ano negro era aguardado com grande expectativa. Não se esperaria que a equipa surgisse confiante e capaz de fazer um grande jogo, mas havia que ver que resposta era a equipa capaz de dar à derrota da passada quarta-feira.
O adversário, o Portimonense, era - e é - apenas o último classificado do campeonato, que de resto disputa por ter sido repescado na sequência da desqualificação do Vitória de Setúbal, não era assustador. Mas nem era preciso, este Benfica tem em si mesmo fantasmas de grande capacidade assustadora.
O início da partida foi uma agradável surpresa. A equipa do Benfica, mesmo desfalcada de sete jogadores, a maioria deles por efeitos da covid, e repetindo o mesmo onze da Supertaça, entrou bem, não aparentando grandes medos, e a desenvolver algumas boas jogadas. E o Portimonense parecia estar ali para não assustar ninguém.
O primeiro golo, a culminar uma bonita jogada de futebol, e alcançado pelo Darwin, que já não marcava há mais de dois meses, teve tudo para lançar a equipa para a exibição que tarda. Mas não, ainda não passara o primeiro quarto de hora, e a reacção que permitiu ao adversário indiciava que não seria assim. Já o Portimonense não era uma adversário (a)batido quando, dez minutos depois, ainda apenas com metade da primeira parte jogada, em mais uma bonita jogada de futebol, apesar de um certo atabalhoamento na parte final, o Benfica voltou a marcar, desta vez por Rafa, com uma boa primeira parte.
Mais uma vez não soube capitalizar o golo, e foi o Portimonense a reforçar a sua presença no jogo. A superioridade do Benfica começou a esfumar-se, e quando o árbitro apitou para o intervalo já a equipa algarvia era a melhor sobre o relvado. Sem criar oportunidades de golo, é certo, mas já com a posse de bola equilibrada - 50% para cada lado.
A segunda parte iniciou-se como terminara a primeira, com o Portimonense por cima do jogo, acumulando posse de bola, e dominando o jogo. De novo sem criar ocasiões de golo, mas melhor em todos os capítulos do jogo. Mesmo assim foram do Benfica as duas oportunidades de golo. Primeiro, logos aos dez minutos, num remate ao poste de Darwin. E pouco depois num remate de cabeça de Otamendi, na sequência de um canto. Contra uma, apenas, do Portimonense. Que atacava e deixava espaços que o Benfica, pelo velho problema dos passes falhados e das decisões erradas, nunca foi capaz de aproveitar.
A incapacidade do Benfica nas transições ficou exemplarmente traduzida numa jogada em que até foi assinalado - mal ou bem, agora não interessa - fora de jogo a Darwin. Que, isolado frente ao guarda-redes, não só não teve arte nem engenho para o bater, acabando por o contornar até ficar sem ângulo a rematar para a bancada. Tudo isto sem que nem um só jogador do Benfica tivesse aparecido para lhe dar qualquer alternativa, todos lá atrás, sem passarem a linha do meio campo.
Valeu que o - inevitável, percebia-se - golo do Portimonense chegou apenas no primeiro dos 5 minutos de compensação, com Jorge Jesus a meter defesas (Ferro) e médios (Samaris) para segurar o resultado. Que foi a única coisa que se salvou deste jogo triste. Muito triste, como todo o ano.
E ninguém espera que o que aí vem seja melhor. Nada indica que o seja. Os jogadores são fantasmas de si próprios, e nada muda só porque muda o ano.