Fantasmas
Lamenta-se o país e o PSD do fraco entusiasmo que as eleições internas do partido no passado fim-de-semana suscitaram. No país e no PSD.
E, claro, lamenta-se a fraca participação eleitoral dos militantes. A vitória eleitoral de Luís Montenegro, tendo sido expressiva, com mais de 70%, e com mais 11.972 votos que Jorge Moreira da Silva, resultou da votação de apenas cerca de 17 mil militantes.
Vem agora a saber-se que, mesmo nesse número de votantes, muitos são eleitores fantasmas. Que votaram em Luís Montenegro!
Conta o "Observador" que em Castelo de Paiva, onde Jorge Moreira da Silva não tinha qualquer delegado na mesa, com 108 militantes, votaram 105. Todos em Luís Montenegro; zero - nenhum - em Jorge Moreira da Silva. Até aqui tudo bem - haveria apenas 3 militantes que não tinham votado, e os que votaram podiam todos ter votado no candidato vencedor. Só que o jornal garante que falou com dezenas de militantes e que muitos lhe confirmaram que não tinham ido votar: uns por estarem fora nesse sábado; outros porque estavam com covid.
Em Vimioso, no concelho de Bragança, conta o "Público", houve pessoas que pretenderam votar sem apresentar o respectivo cartão de cidadão. Aí, já com a candidatura de Jorge Moreira da Silva representada na mesa, essas pessoas foram barradas, vindo a apurar-se que os nomes por que se identificavam correspondiam a emigrantes, ausentes da terra.
Pode lamentar-se o desinteresse por estas eleições no PSD. Mas, mais - muito mias - que a fraca participação eleitoral dos militantes do PSD, há que lamentar estes exemplos de batota e caciquismo. Bem nos lembramos do tempo em que os mortos votavam ...
Pelo pouco que foi dado a perceber nesta disputa eleitoral, havia alguma diferença de ideias entre os dois candidatos que disputaram a liderança do PSD. A grande diferença, essa, e que Jorge Moreira da Silva não quis explorar, era mesmo de pessoas. De perfil, de carácter e de comportamento, que estas notícias apenas confirmam e reforçam.
Luís Montenegro bem pode anunciar-se candidato a primeiro-ministro. Pode ser, basta que dure quatro anos, e chegue às próximas eleições legislativas. Mas ninguém acredita muito que seja uma pessoa destas a levar o PSD de volta ao governo. É que não há só fantasmas nos eleitores!