Fartote na Madeira
As eleições regionais da Madeira, ontem realizadas, animaram o espectáculo político do país.
O PSD já tinha deixado de ganhar sozinho na Madeira, já tinha precisado de dar o braço ao CDS, quando ainda se sabia o que valia. Apresentou-se coligado com o velho parceiro, que hoje, nem na Madeira nem em qualquer outro lado, ninguém sabe o que vale. Sabe-se - calcula-se - que valha pouco. Ganhou. Ganharam. Claramente, mas sem maioria absoluta e, consequentemente, com a necessidade de alargar a base parlamentar de apoio ao novo governo aos novos partidos que chegaram pela primeira vez à Assembleia Regional madeirense Chega, PAN e IL.
Bastando-lhe para a maioria parlamentar o deputado eleito pelo PAN, ou o outro eleito pela IL, pôde dar-se ao luxo de descartar, e assim continuar a empurrar com a barriga, a sombra arrepiante do Chega. É até provável que Miguel Albuquerque se socorra de ambos para se precaver de qualquer percalço, assim a jeitos dos que têm acontecido nos Açores.
Até aqui tudo normal. Mas não tão normal para evitar um fartote!
A jeito de aperitivo, começou pelo PS, objectivamente o maior perdedor, com Sérgio Gonçalves, o líder regional, a festejar por ter "mais votos em conjunto do que a terceira e quarta forças políticas que participaram neste ato eleitoral" e a garantir ter ficado “claro que o Partido Socialista é a única alternativa de governo para Madeira”. Continuou, como se fosse o prato de peixe, com Luís Montenegro a comparar "os 43,13% do resultado da coligação, os 41,37% que deram ao Doutor António Costa maioria absoluta". A caldeirada é prato de peixe, mas tão substancial que já dispensava prato principal.
Só que este não podia ser dispensado, porque há muito vinha sendo repetidamente anunciado por Miguel Albuquerque: "Não governo, não vou governar e recuso-me a governar se não tiver maioria, é impossível". O prato principal não desiludiu: obviamente não me demito e as “diligências já estão a ser feitas ... e até ao fim desta semana espero apresentar um Governo de maioria”!
Obviamente que não falta qualquer legitimidade eleitoral a Miguel Albuquerque para continuar à frente do governo regional. Legitimidade política e vergonha na cara é outra conversa!
E essa é conversa para continuar. A começar já no inevitável envolvimento do IL, do "menos Estado para tudo" na solução governativa que mais uso faz do " Estado para tudo" no nosso país!