Fazer contas às contas
As contas de 2017 do Novo Banco, já vendido à Lone Star, estão com alguma dificuldade em mostrarem-se à luz do dia. Percebe-se por quê. Não é novo. Novo é o Banco!
É que assim vão-se soltando uns números, e quando elas forem finalmente conhecidas já está criada a almofada - nestas coisas há sempre uma almofada, provavelmente ainda a mesma que Cavaco apregoava nas vésperas da catástrofe que deu no nascimento do banco - que os vai aparar, para que o estrondo seja suavizado. Ontem falava-se numas centenas de milhões de euros de prejuízos, hoje já se fala em qualquer coisa entre 1,6 e 1,8 mil milhões...
Porque já se sabe - mesmo que se não soubesse - quem vai ter de cobrir aquilo tudo. E não é o dono do banco, porque Banco, por definição, é isso mesmo. É o negócio onde o dono só ganha. Quando perde, não é nada com ele!
Por isso é que temos que entender que um banco que era o "bom", que ficou apenas com o que de bom restara da vigarice Espírio Santo, sem outro passivo que não fosse o dos depósitos, e ainda com 4,9 mil milhões de euros fresquinhos que o Fundo de Resolução nem tinha, mas que nós lhe demos, em apenas três anos tenha dado cabo desse dinheiro todo e arranjasse ainda forma de lhe acrescentar outro tanto em prejuízos.
Dos gestores do banco nestes três anos, de Stock da Cunha a António Ramalho, só ouvimos dizer maravilhas. Ambos mais que excelentes. E no entanto, num "banco bom", capitalizado, e num negócio que como nenhum outro "tem a faca e o queijo na mão", o primeiro conseguiu a proeza de perder 468 milhões de euros em menos 4 meses de actividade em 2014 e 981 milhões no ano seguinte. E o segundo, 788,5 milhões em 2016 e, ao que por enquanto se vai dizendo, mais 1.800 milhões em 2017. Se não fossem tão bons, como teria sido?
Claro. O Banco de Portugal não é apenas o criador da criatura. É - tem sido - também o dono do Banco. E ... lá está. Dono do Banco não tem nada a ver com isso!