Feira de gado: circunstâncias e surpresas...
A tradicional acalmia política desta época de natal, uma espécie de mini-silly season, foi quebrada pela "feira de gado" de Augusto Santos Silva. Tínhamos dele uma imagem de truculento, a lembrar aquela de "quem se mete com o PS leva". Se calhar era mais "quem se mete com o Sócrates leva"... Se calhar porque esse foi chão que já deu uvas, e quem passou a levar foi quem não se meteu com ele, na sua reincarnação neste governo tem deixado uma imagem de um homem pacato, cordato, e nada dado traquinices.
É certo que a pasta ajuda: a um ministro dos negócios estrangeiros pede-se diplomacia, evidentemente. E não é muito exigente - especialmente num país como o nosso - passando sempre ao lado das coisas que mais queimam.
Quero com isto dizer que a pacatez e a cordialidade deste peso pesado do PS, de que nenhum líder quer largar mão, é mais fruto das circunstâncias que do homem. Daí que ter comparado a Concertação Social a uma feira de gado não tenha nada de surpreendente. O que surpreende é que se tenha deixado apanhar. E logo pela TVI, onde não se consegue deixar de ver muito mais que uma simples pontinha de vingança.
Não me surpreende muito que o tenham obrigado a pedir a desculpa, e não me surpreende nada que a tenha pedido. O que a mim me surpreende mais é que tenha razão: aquilo é mesmo como uma feira de gado. Só que bem diferente daquelas de antigamente, feitas de muita arte e engenho. A arte de ver os dentes dos burros e o engenho para lhe aldrabar a idade!