Fim de semana quente
Em contraste com o tempo frio e chuvoso do inverno que começa a apertar, este era um fim de semana de alta temperatura política aqui pela Europa.
Na Àustria, que antecipou em quase duas décadas o esgotamento do centrão que serviu de forma de governo à Europa do pós-guerra, e o reforço da extrema-direita, votava-se para as presidenciais. E temia-se pela eleição de Norbert Hofler, o candidato da expressiva extrema-direita austríaca, naquilo que vinha sendo prognosticado como a primeira presidência engolida pelo tsunami nacionalista e xenófobo que está previsto assolar a Europa neste ciclo eleitoral que se está a iniciar. Para já, e pela Áustria, não se confirmaram essas premonições: o novo presidente austríaco é Alexender Van der Bellen - que já havia sido o mais votado na primeira volta, em Maio -, um ecologista e um progressista.
Em Itália votava-se num referendo (mal estruturado) para uma complexa revisão constitucional (não deve ser fácil conceber um modelo simples e eficaz de referendar alterações que mexem com mais de 40 artigos da Constituição) que o primeiro-ministro italiano resolveu simplificar transformando-o num simples plebiscito ao seu governo. Quando Renzi, há mais de quatro meses, anunciou que se demitiria se o "não" ganhasse, deixou tudo mais simples: afinal os italianos já não tinham que se preocupar muito se faz sentido (que não faz) que o Senado e a Câmara dos Deputados tenham o mesmo poder e façam a mesma coisa; ou se o sistema eleitoral deve facilitar a constituição de governos, favorecendo os grandes partidos (que, com 40% dos votos garantiam 54% dos lugares) para reduzir o incómodo dos pequenos - só tinham que dizer se queriam ou não aquele governo.
E não quiseram... Tão claramente que Renzi nem precisou de muito tempo para declarar finito o seu governo.
Também aqui estamos perante o copo meio cheio. Está meio cheio se entendermos que os italianos simplesmente disseram que querem outro governo, e que acham que vivem bem com o sistema político com que sempre viveram. Isso é normal em Itália, habituada a mudar de governo como quem muda de camisa, sem que daí venha mal ao mundo. E a eles próprios, a oitava economia do mundo...
Mas o copo já poderá estar meio vazio se a este se seguir outro, já colocado na agenda política pela maior parte da forças agora vitoriosas, para decidir a continuidade na União Europeia.
A Europa está de cabelos em pé. Será bom que respire fundo, reflita e corrija o rumo. Mesmo que se saiba que em Itália tudo é diferente. Que a Itália é diferente, tão diferente que nenhum outro país sobreviveria às condições em que tem crescido. E afirmado!