Foi bom enquanto durou
Acabou. Foi bom enquanto durou, mas acabou-se. Durou pouco, apenas sete jogos, este jogo de "ses" que, depois das duas últimas jornadas do campeonato, alimentou o remoto sonho do Benfica poder vir ainda a voltar a ser campeão. Se o Benfica ganhasse todos os jogos até ao fim do campeonato, se o Sporting perder mais seis pontos... Se isso acontecesse, e mesmo que o Porto ganhasse todos os outros jogos, no final os três somariam 81 pontos, coisa inédita.
E o Benfica seria campeão. E o Sporting seria segundo e o Porto terceiro.
Com este jogo de hipóteses no ar, e com o desempenho da equipa nos últimos sete jogos, ninguém esperaria que o Benfica hoje entrasse em campo sem a convição de quem queria ganhar o jogo. De quem só poderia ganhar o jogo.
Estranhamente, se é que ainda alguma coisa se estranha neste Benfica,, não foi com esse espírito que a equipa entrou hoje na Luz, na recepção ao Gil Vicente. E acabou o sonho. Até esse mal menor do segundo lugar, de acesso directo à Champions, não passa hoje de uma miragem. E mesmo o terceiro lugar depende agora do que se seguir, onde o mais provável neste momento é voltarmos a assistir ao desmoronar da equipa.
O jogo deixa pouco para contar, para além das consequências de uma derrota que jogadores, em primeiro lugar, mas também o treinador, fizeram pouco por evitar. Começou por ser um jogo sem balizas, o que demonstra a falta de ambição do Benfica. Que convinha ao Gil, bem distribuído no campo todo, e sempre a encontrar espaços para jogar.
O Benfica não pressionava. Nem alto, nem baixo. Simplesmente deixava jogar. E pôs-se a jeito daquilo que antes acontecia, e que pensávamos que faria parte do passado. À primeira oportunidade o Gil marcou, iam decorridos 35 minutos de jogo, sem que o Benfica tivesse sequer efectuado um remate. De resto, na primeira parte o Benfica, o Benfica fez apenas duas espécies de remates. De cabeça, ambos, e ambos sem qualquer sentido.
O Gil Vicente não foi apenas melhor que o Benfica. Foi muito melhor, e nem sequer precisou de caprichar muito, perante um adversário totalmente desinspirado e negligente.
À entrada para a segunda parte Jorge Jesus desfez o trio de centrais (!) , trocando Lucas Veríssimo por Everton, que voltou a não acrescentar nada. Esperar-se-ia que a equipa mudasse de atitude e de qualidade de jogo, e que asfixiasse o Gil, lá atrás. Só que a primeira oportunidade, logo ao terceiro minuto, voltou a pertencer à equipa de Barcelos, e ficou dado o mote. Aos sete minutos surgiu a primeira oportunidade do Benfica, perdida pelo de novo desastrado Seferovic. Mas, cinco minutos depois, consentia nova oportunidade ao adversário.
Depois foi carregar sobre o meio campo adversário, empurrá-lo finalmente lá para trás, mas uma incapacidade absoluta de ultrapassar a sua organização defensiva. Com o futebol do costume. sem dinâmica, sem remates de longe, sem linha de fundo, sem presença e pressão na área adversária, e com passes e recepções errados.
No meio disto, o Gil vai lá à frente e, desta vez à terceira oportunidade, marca o segundo golo. Numa jogada que transmite tudo o que foi a equipa do Benfica, com um único jogador gilista a fugir pela esquerda sem ninguém o acompanhar, a entrar na área com o próprio Otamendi a renunciar a acompanhá-lo até ao fim, e a marcar já e, cima da linha de fundo. Quer dizer, com um ângulo fácil de cobrir pelo Helton Leite. Que não fez uma única defesa, levou dois golos, e poderia ter levado mais.
Claro que, mesmo assim, o Benfica teve oportunidades que poderiam até ter bastado para ganhar um jogo que nunca mereceu ganhar. Se as conseguisse aproveitar. Não conseguiu, e até o golo de honra, a 4 minutos dos 90, teve de ser marcado por um defesa adversário na própria baliza, mesmo que numa tabela na sequência de mais uma boa defesa do seu guarda-redes.