Força, João Almeida. Força campeão!
Correu-se hoje a primeira das três últimas decisivas etapas do Giro, a 18ª, entre Oderzo e Val di Zoldo, na região de Veneto, num percurso de 161 km cheio de montanhas pelo caminho, que Tibault Pinault aproveitou para conquistar a camisola azul, da montanha. Entrou na fuga logo no início, porque nos primeiros 50 quilómetros já havia uma de primeira categoria, e foi acumulando minutos vantagem. Chegou a ter mais de mais de 6 minutos de vantagem, e até a entrar virtualmente no pódio, perante a passividade do pelotão, e das principais equipas. No fim, nem ganhou a etapa (batido sobre a meta pelo italiano Fillippo Zana), nem conseguiu melhor que entrar no "top ten" (em sétimo). Os pontos somados - não parou de os somar até ao fim - é que ninguém lhos tira. Nem o título de "rei da montanha" deste Giro.
Mas a história da etapa não se fica pela do veterano trepador francês, em ano de despedida. À medida que as subidas iam empinando, e as montanhas ficando para trás, o pelotão ia encurtando, com todas as equipas a perderem corredores. Todas menos a Jumbo, de Roglic. Que não se mexia, não saía do meio do pelotão, aí se mantendo compacta.
Se não se mexia era porque Roglic não estaria a passar bem, pensava-se. Se permitia ao numeroso grupo de Pinault ir ganhando tempo e ameaçando as posições dos seus ciclistas - e até a de Roglic chegou a estar tomada - só poderia querer dizer que o seu líder não estava em condições de responder ao endurecimento da corrida.
Afinal não era nada disso. Era estratégia pura e, na última subida - na realidade a penúltima, já que os últimos três quilómetros para a meta eram ainda em subida, mas já não propriamente montanha -, no Coi, quando a inclinação chegou aos 20%, com a equipa completa à sua volta, Roglic atacou e arrasou com todos. Menos Geraint Thomas, que nunca o largou e daria até uma ajuda decisiva, na subida para a meta.
João Almeida cedeu, e perdeu de imediato alguns metros e mais de 20 segundos. Depois do impacto inicial recuperou, com a prestimosa ajuda do seu companheiro da equipa, J Vine, e chegou ao final da subida de Coi com os seus dois, e principais, adversários ali à frente, a apenas 7 segundos. Mas sem se lhes conseguir juntar.
Tudo indicava que o conseguiria fazer nos 2 quilómetros da descida. Só que, logo no início, J Vine não conseguiu fazer uma curva e saiu da estrada, arrastando-o na trajectória, obrigando-o a parar e deixando-o, depois, sozinho na perseguição. Na frente, e já no início da derradeira subida (2,7 quilómetros) para Val di Zoldo, onde estava a meta, Geraint Thomas, que até aí se limitara a seguir a roda de Roglic, vendo que o João não tinha chegado, passou a puxar com o esloveno, cavando uma diferença (21 segundos) que tonaria inglório o enorme esforço, e a alma, do campeão português.
Mais que pela surpresa - e pela matreirice de Roglic - João Almeida foi traído por um dia menos bom. E por aquela curva. Com os 21 segundos perdidos, perdeu também o segundo lugar, e está, agora, a 39 segundos do britânico, e a 10 do esloveno. Não terá perdido o sonho da vitória final, mas ficou - ficamos todos - a saber que Roglic está vivo, e em forma. Que não estava acabado quando anteontem lhe ganhou. E que, aos 37 anos, hoje cumpridos, Geraint Thomas responde sempre. Respondeu-lhe anteontem, e respondeu hoje a Roglic!
Amanhã corre-se a última etapa em linha de montanha. Duríssima, sem as elevadas inclinações de hoje, mas mais longa e com ainda mais subidas. Depois, no sábado, o contra-relógio de montanha. Uma crono-escalada fora do comum, de que ninguém sabe o que esperar.
João Almeida tem o pódio praticamente garantido, o quarto classificado já está a 3 minutos. Garantido, mesmo, é que é figura maior neste Giro. E que é um campeão. E um campeão nunca se verga!