Grau zero
Não direi que o que se passou ontem na Assembleia da República foi uma vergonha porque ela já está esgotada.
As miseráveis artimanhas e o bluff arrogante de um Primeiro-Ministro, de todo um governo, de toda uma bancada parlamentar, e de todo um partido, usados para misturar a discussão de uma moção de confiança proposta pelo Governo, com a discussão de uma comissão parlamentar de inquérito, decidida por um partido da oposição, com único objectivo de passar a culpa pela queda do governo, e pela antecipação de eleições, passam a constituir o mais baixo grau da nossa democracia.
Luís Montenegro e Hugo Soares, em directo do plenário da Assembleia da República, com todo o país a assistir, primeiro propuseram uma negociata à porta fechada com o PS para evitar a comissão de inquérito e a votação moção de confiança, no trade off enunciado há dias pelo ministro Castro Almeida. Depois, recusada essa indecorosa negociata, em última hora disponibilizaram-se para responder a todas as dúvidas dos deputados, quando andam há semanas a fugir às repostas e a dizer que não há mais nada para esclarecer. Finalmente acabariam a propor uma comissão de inquérito, mas nos termos e nos prazos [primeiro quinze dias (?), depois sessenta, nem mais um dia] que o primeiro-ministro entendesse.
Tudo isto apenas, e só, para se apresentar a novas eleições sem prestar as contas a que está obrigado, e por elas responsabilizar o adversário político.
Montenegro não quer a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) porque sabe que elas são como as cerejas. Que umas atrás de outras, deslindarão o seu velho modo de vida de "facilitador".
É por isso que o país vai para eleições. Não é por outra quaquer razão!