Há 10 anos
O nosso primeiro-ministro garante-nos que as medidas anunciadas na semana passada “são suficientes para restaurar a credibilidade do Estado Português junto dos agentes financeiros”.
Fosse a credibilidade o forte do nosso primeiro-ministro, ou não nos tivesse já dito o mesmo no PEC I e depois no PEC II, quando o mundo mudara em duas semanas, e alguns de nós, os menos dados à análise destas coisas da economia, até poderiam acreditar.
Mas não. Não dá para acreditar: estas medidas, que ao contrário do apregoado não incidem em primeira ordem na redução da despesa – a redução na despesa é exactamente do mesmo sinal do aumento dos impostos, e não de efectivo corte nos desperdícios do Estado – espremem a classe média e têm consequências na economia, no crescimento económico.
O FMI apresentou esta semana uma previsão de crescimento zero que corrigiu, logo que percebeu que essa previsão não tinha em conta aquelas medidas, para um crescimento negativo de 1,4%.
Já toda a gente percebeu que em 2011 a economia portuguesa entrará de novo em recessão e que, mesmo que aquelas medidas tivessem acalmado (restaurado a credibilidade, nas palavras do primeiro-ministro) os mercados – o que as operações de colocação de dívida desta semana não confirmaram –, eles voltariam a agitar-se com o crescimento negativo que, evidentemente, lança a economia portuguesa numa espiral de recessão que se transforma num beco sem saída. Os mercados hoje penalizam-nos fortemente pelo comportamento do défice orçamental. Amanhã penalizar-nos-ão ainda mais pelo desempenho do produto!
Portanto estas medidas, ao contrário do que o senhor primeiro-ministro garante, não são suficientes. Nem credíveis!
No dia em que ficamos a conhecer os escalões de corte nos salários da função pública – cinco escalões, com o primeiro a iniciar-se nos 1.500 euros (com corte de 3,5%) e o último nos 4.200 (onde o corte é de 10%) – é bom lembrar que credibilidade rima com responsabilidade!
Sem que se inverta o sentido de responsabilidade de quem nos governa, de quem nos governou e nos levou a abdicar de produzir em troca de subsídios, e de quem fatalmente nos virá a governar, nunca Portugal conseguirá restaurar a credibilidade!