Há 10 anos
No futebol também há Natal. Já o inverso não é verdadeiro: No Natal (não) há futebol!
Em Portugal, ao contrário de Inglaterra, onde o dia de Natal – o chamado boxing day – assume a expressão máxima do futebol como espectáculo de família, o futebol mete mesmo férias. Logo que começa a cheirar a filhós ou a bolo-rei é vê-los a partir… Para o Brasil, para a Argentina, já é para todos os destinos da América do Sul. Nos aeroportos a azáfama é grande! Maior só mesmo no regresso, quando aos regressados se juntam mais uns quantos que, pela chamada janela de Inverno, vêm alimentar sonhos de uns e matar os de outros!
As férias tornam-se sempre num marco. Sejam elas quais forem há sempre um antes e um depois de férias. É assim na actividade escolar, é assim na actividade económica e, claro, é assim no futebol. Por isso o Natal é mesmo um marco mais importante do que o final da primeira volta, que acontece umas semanas depois. De resto, e estando cumprida a 14ª jornada da I Liga, portanto a uma desse marco que assinala exactamente o meio da prova, não se compreende muito bem que não tenha sido feito um esforço para acertar os dois calendários. Se não se faz esse esforço é mesmo para não retira ao Natal o papel principal. São os treinadores que não chegam ao Natal… São os campeões encontrados no Natal… E ninguém fala no treinador que não chega ao fim da primeira volta. Nem do campeão da primeira volta!
Este ano os treinadores resistiram bem ao Natal. Mas tudo tem uma explicação.
No Sporting, apesar da crise crónica, o Paulo Sérgio lá se foi aguentando. Dificilmente poderia ser de outra forma: já tinham pago ao Guimarães para o trazer; voltar a pagar para o mandar passar o Natal a casa era despesa a mais. Mas não foi por isso que deixaram de assinalar esta quadra: se no ano passado fora assinalada com a chegada de um novo treinador (o hoje comentador televisivo Carlos Carvalhal) este ano, na impossibilidade de repetir a cena, chega um director geral. É tudo em grande. Não fazem a coisa por menos: um director geral – José Peyroteu Couceiro – para cima de um director desportivo!
Não há Natal sem Jesus. E sem Jesus não há salvação, quem o diz é Pinto da Costa. Por isso no Benfica o treinador teria sempre de chegar ao Natal, por muito que as coisas estivessem complicadas. Como estiveram… Quem não chegou ao Natal foi a águia, a Vitória. Que é bem pior que perder um treinador, mesmo que se chame Jesus. Treinador é fácil de substituir, há logo mais de 100 a apertar o nó da gravata e a esticar o pescoço. É rei morto rei posto! Águias é que não há por aí à mão…E aqui que ninguém nos ouve, com a qualidade do futebol apresentado este ano, a melhor parte do espectáculo era mesmo, em grande parte das vezes, o voo da Vitória. Raramente televisionado, o que constituía fortíssimo atractivo à presença na Luz!
O treinador do Porto é normalmente menos vulnerável ao Natal. Quando o é é-o logo em dose dupla. Ou tripla! Para o Porto Natal joga mais com campeão. É mais dado a isso de campeão no Natal!
No FCP é assim: ou é ou não é, não há cá meias tintas. As coisas são tão bem feitas que produzem resultados imediatos. Nem sequer a curto prazo, é logo: tiro e queda! Veja-se bem: esta época à 4ª jornada já estava tudo arrumado. Nove pontos de avanço permitiram-lhe gerir as outras dez jornadas nas calmas – um penalti aqui outro acolá – e chegar ao Natal com oito. Bem dizia o Pinto da Costa que no ano passado se distraíram…
Bom Natal para todos!